segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

– Conclusão –

O progresso da humanidade tem seu princípio na aplicação da lei de justiça, de amor e de caridade, lei que se funda na certeza do futuro. Dessa lei derivam todas as outras, porque ela encerra todas as condições da felicidade do homem. Só ela pode curar as chagas da sociedade. Comparando as idades e os povos, pode ele avaliar quanto a sua condição melhora, à medida que essa lei vai sendo mais bem compreendida e praticada. Ora, se aplicando-a, parcial e incompletamente, aufere o homem tanto bem, que não conseguirá quando fizer dela a base de todas as suas instituições sociais? Será isso possível? Certo, porquanto, desde que ele já deu dez passos, possível lhe é dar vinte e assim por diante.

Por meio do Espiritismo, a Humanidade tem que entrar numa nova fase, a do progresso moral que lhe é conseqüência inevitável.

O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios e da filosofia que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí, três classes, ou, antes, três graus de adeptos:

1. Os que crêem nas manifestações e se limitam a comprová-las; para esses o Espiritismo é uma ciência experimental;

2. Os que lhe percebem as conseqüências morais;

3. Os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral.

Qualquer que seja o ponto de vista, científico ou moral, sob que considerem esses estranhos fenômenos, todos compreendem constituírem eles uma ordem, inteiramente nova, de idéias que surgem e da qual não pode deixar de resultar uma profunda modificação no estado da Humanidade e compreendem, igualmente, que essa modificação não pode deixar de operar-se no sentido do bem.

Quanto aos adversários, também podemos classificá-los em três categorias:

1. A dos que negam sistematicamente tudo o que é novo, ou deles não venha, e que falam sem conhecimento de causa.

A esta classe pertencem todos os que não admitem senão o que possa ter o testemunho dos sentidos. Nada viram, nada querem ver e ainda menos aprofundar. Ficariam mesmo aborrecidos se vissem as coisas muito claramente, porque forçoso lhes seria convir em que não têm razão. Para eles, o Espiritismo é uma quimera, uma loucura, uma utopia. Não existe! E está tudo resolvido. São os incrédulos de caso pensado. Ao lado destes, podem colocar-se os que não se dignam dar aos fatos a mínima atenção, sequer por desencargo de consciência, a fim de poderem dizer: quis ver e nada vi. Não compreendem que seja preciso mais de meia hora para alguém se inteirar de uma ciência.

2. A dos que, sabendo muito bem o que pensar da realidade dos fatos, os combatem, todavia, por motivo de interesse pessoal.

Para estes, o Espiritismo existe, mas lhe receiam as conseqüências. Atacam-no como a inimigo.

3. A dos que acham na moral espírita uma censura por demais severa aos seus atos ou às suas tendências.

Tomado a sério, o Espiritismo os embaraçaria. Não o rejeitam, nem o aprovam. Preferem fechar os olhos.

Os primeiros, são movidos pelo orgulho e pela presunção; os segundos, pela ambição; os terceiros, pelo egoísmo.

Concebe-se que, nenhuma solidez tendo, essas causas de oposição venham desaparecer com o tempo, pois em vão procuraríamos uma quarta classe de antagonistas, a dos que, em patentes provas contrárias, se apoiassem, demonstrando estudo laborioso e porfiado da questão. Todos apenas opõem a negação e nenhum aduz demonstração séria e irrefutável.

Fora presumir demais da natureza humana supor que ela possa transformar-se de súbito, por efeito das idéias espíritas. A ação que estas exercem não é certamente idêntica, nem do mesmo grau, em todos os que a professam. Mas o resultado dessa ação, qualquer que seja, ainda que extremamente fraco, representa sempre uma melhora. Será, quando menos, o de dar a prova da existência de um mundo extra-corpóreo, o que implica a negação das doutrinas materialistas. Isto deriva da só observação dos fatos, porém para os que compreendem o Espiritismo filosófico e nele vêem outra coisa que não somente os fenômenos mais ou menos curiosos, diversos são os seus efeitos.

O primeiro e mais geral consiste em desenvolver o sentimento religioso até naquele que, sem ser materialista, olha com absoluta indiferença para as questões espirituais. Daí lhe advém o desprezo pela morte. Não dizemos o desejo de morrer; longe disso, porquanto o espírita defenderá sua vida como qualquer outro, mas uma indiferença que o leva a aceitar, sem queixa nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de alegrar do que temer, pela certeza que tem do estado que se lhe segue.

O segundo efeito, quase tão geral como o primeiro, é a resignação nas vicissitudes da vida. O Espiritismo dá a ver as coisas de tão alto que, perdendo a vida terrena três quartas partes de sua importância, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham. Daí mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos. Daí, também, o banimento da idéia de abreviar os dias da existência, por isso que a ciência espírita ensina que pelo suicídio sempre se perde o que se queria ganhar. A certeza de um futuro, que temos a faculdade de tornar feliz, a possibilidade de estabelecermos relações com os entes que nos são caros, oferecem ao espírita suprema consolação. O horizonte se lhe dilata ao infinito, graças ao espetáculo a que assiste incessantemente, da vida de além-túmulo, cujas misteriosas profundezas lhe sâo facultadas sondar.

O terceiro efeito é o de estimular no homem a indulgência para com os defeitos alheios. Todavia, cumpre dizê-lo, o princípio egoísta e tudo o que dele decorre são o que há de mais tenaz no homem e, por conseguinte, mais difícil de desarraigar. Toda gente faz voluntariamente sacrifícios, contanto que nada custem e de nada privem. Para a maioria dos homens, o dinheiro tem ainda irresistível atrativo, e bem poucos compreendem a palavra supérfluo, quando de sua pessoa se trata. Por isso mesmo, a abnegação da personalidade constitui sinal de grandíssimo progresso.

O Espiritismo não traz ao mundo moral diferente da de Jesus. As comunicações com os seres de além-túmulo deram em resultado fazer-nos compreender a vida futura, fazer-nos vê-la, iniciar-nos no conhecimento das penas e gozos que nos estão reservados, de acordo com os nossos méritos e, desse modo, encaminhar para o espiritualismo os que no homem somente viam a matéria, a máquina organizada.

Por bem largo tempo, os homens se têm estraçalhado e anatematizado mutuamente em nome de um Deus de paz e misericórdia, ofendendo-o com semelhante sacrilégio. O Espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade, onde o erro. Durante muito tempo, porém, ainda haverá escribas e fariseus que o negarão, como negaram o Cristo. Quereis saber sob a influência de que Espíritos estão as diversas seitas que entre si fizeram partilha do mundo? Julgai-os pelas suas obras e pelos seus princípios. Jamais os bons Espíritos foram os instigadores do mal; jamais aconselharam ou legitimaram o assassínio e a violência; jamais estimularam os ódios dos partidos, nem a sede das riquezas e das honras, nem a avidez dos bens da Terra. Os que são bons, humanitários e benevolentes para com todos, esses os prediletos de Jesus, porque seguem a estrada que este lhes indicou para chegarem até Ele.

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