quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Vida Futura

ESTUDO

In O Evangelho Segundo o Espiritismo

Cap. II, itens 1,2 e 3 – Allan Kardec

1. "Tornou pois a entrar Pilatos no pretório, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus? Respondeu-lhe Jesus: O meu reino não é deste mundo: se o meu reino fosse deste mundo, certo que os meus ministros haviam de pelejar para que eu não fosse entregue aos judeus; mas por agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe então Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes, que eu sou rei. Eu não nasci nem vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade; todo aquele que é da verdade ouve a minha voz". (JOÃO, cap. XVIII, 33-37).


A VIDA FUTURA

2. Por estas palavras, Jesus se refere claramente à vida futura, que ele apresenta, em todas as circunstâncias, como o fim a que se destina a humanidade, e como devendo ser o objeto das principais preocupações do homem sobre a terra. Todas as suas máximas se referem a esse grande princípio. Sem a vida futura, com efeito, a maior parte dos seus preceitos de moral não teriam nenhuma razão de ser. É por isso que os que não crêem na vida futura, pensando que ele apenas falava da vida presente, não os compreendem ou os acham pueris.



Esse dogma pode ser considerado, portanto, como o ponto central do ensinamento do Cristo. Eis porque está colocado entre os primeiros, no início desta obra, pois deve ser a meta de todos os homens. Só ele pode justificar os absurdos da vida terrestre e harmonizar-se com a justiça de Deus.



3. Os judeus tinham idéias muito imprecisas sobre a vida futura. Acreditavam nos anjos, que consideravam como os seres privilegiados da criação, mas não sabiam que os homens, um dia, pudessem tornar-se anjos e participar da felicidade angélica. Segundo pensavam, a observação das leis de Deus era recompensada pelos bens terrenos, pela supremacia de sua nação no mundo, pelas vitórias que obteriam sobre os inimigos. As calamidades públicas e as derrotas eram os castigos da desobediência. Moisés o confirmou, ao dizer essas coisas, ainda mais fortemente, a um povo ignorante, de pastores, que precisava ser tocado antes de tudo pelos interesses deste mundo. Mais tarde, Jesus veio lhes revelar que existe outro mundo, onde a justiça de Deus se realiza. É esse mundo que ele promete aos que observam os mandamentos de Deus. É nele que os bons são recompensados. Esse mundo é o seu reino, no qual se encontra em toda a sua glória, e para o qual voltará ao deixar a Terra.



Jesus, entretanto, conformando o seu ensino ao estado dos homens da época, evitou de lhes dar o esclarecimento completo, que os deslumbraria em vez de iluminar, porque eles não o teriam compreendido. Ele se limitou a colocar, de certo modo, a vida futura como um princípio, uma lei da natureza, à qual ninguém pode escapar. Todo cristão, portanto, crê forçosamente na vida futura, mas a idéia que muitos fazem dela é vaga, incompleta, e por isso mesmo falsa em muitos pontos. Para grande número, é apenas uma crença, sem nenhuma certeza decisiva, e daí as dúvidas, e até mesmo a incredulidade.



O Espiritismo veio completar, nesse ponto, como em muitos outros, o ensinamento do Cristo, quando os homens se mostraram maduros para compreender a verdade. Com o Espiritismo, a vida; futura não é mais simples artigo de fé, ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos fatos. Porque são as testemunhas; oculares que a vêm descrever em todas as suas fases e peripécias, de tal maneira, que não somente a dúvida já não é mais possível, como a inteligência mais vulgar pode fazer uma idéia dos seus mais variados aspectos, da mesma forma que imaginaria um país do qual se lê uma descrição detalhada. Ora, esta descrição da vida futura é de tal maneira circunstanciada, são tão racionais as condições da existência feliz ou infeliz do que nela se encontram, que acabamos por concordar que não podia ser de outra maneira, e que ela bem representa a verdadeira justiça de Deus.



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Podemos ler nas notáveis confissões de Santo Agostinho, as palavras características e proféticas, ao mesmo tempo, que ele pronunciou ao ter perdido Santa Mônica: "Estou certo de que minha mãe virá visitar-me e dar-me os seus conselhos, revelando-me o que nos espera na vida futura".

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O PONTO DE VISTA

In O Evangelho Segundo o Espiritismo

Cap. II, itens 5, 6 e 7 – Allan Kardec



A idéia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no porvir, e essa fé tem conseqüências enormes sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista pelo qual eles encaram a vida terrena. Para aquele que se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é infinita, a vida corporal não é mais do que rápida passagem, uma breve permanência num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da vida são apenas incidentes que ele enfrenta com paciência, porque sabe que são de curta duração e devem ser seguidos de uma situação mais feliz. A morte nada tem de pavoroso, não é mais a porta do nada, mas a da libertação, que abre para o exilado a morada da felicidade e da paz. Sabendo que se encontra numa condição temporária e não definitiva, ele encara as dificuldades da vida com mais indiferença, do que resulta uma calma de espírito que lhe abranda as amarguras.



Pela simples dúvida sobre a vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos na vida terrena. Incerto do porvir, dedica-se inteiramente ao presente. Não entrevendo bens mais preciosos que os da terra, ele se porta como a criança que nada vê além dos seus brinquedos e tudo faz para obtê-los. A perda do menor dos seus bens causa-lhe pungente mágoa. Um desengano, uma esperança perdida, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que for vítima, o orgulho ou a vaidade feridas, são tantos outros tormentos, que fazem da vida uma angústia perpétua, pois que se entrega voluntariamente a uma verdadeira tortura de todos os instantes.



Sob o ponto de vista da vida terrena, em cujo centro se coloca, tudo se agiganta ao seu redor. O mal que o atinge, como o bem que toca aos outros, tudo adquire aos seus olhos enorme importância. É como o homem que, dentro de uma cidade, vê tudo grande em seu redor: os cidadãos eminentes como os monumentos; mas que, subindo a uma montanha, tudo lhe parece pequeno.



Assim acontece com aquele que encara a vida terrena do ponto de vista da vida futura: a humanidade, como as estrelas no céu, se perde na imensidade; ele então se apercebe de que grandes e pequenos se confundem como as formigas num monte de terra; que operários e poderosos são da mesma estatura; e ele lamenta essas; criaturas efêmeras, que tanto se esfalfam para conquistar uma posição que os eleva tão pouco e por tão pouco tempo. É assim que a importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa; da fé que se tem na vida futura.



6. Se todos pensarem assim, dir-se-á, ninguém mais se ocupando das coisas da terra, tudo perigará. Mas não, porque o homem procura instintivamente o seu bem-estar, e mesmo tendo a certeza de que ficará por pouco tempo em algum lugar, ainda quererá estar o melhor ou o menos mal possível. Não há uma só pessoa que, sentindo um espinho sob a mão, não a retire para não ser picada. Ora, a procura do bem-estar força o homem a melhorar todas as coisas, impulsionado como ele é pelo instinto do progresso e da conservação, que decorre das próprias leis da natureza. Ele trabalha, portanto, por necessidade, por gosto e por dever, e com isso cumpre os desígnios da Providência, que o colocou na terra para esse fim. Só aquele que considera o futuro pode dar ao presente uma importância relativa, consolando-se facilmente de seus revezes, ao pensar no destino que o aguarda.



Deus não condena, portanto, os gozos terrenos, mas o abuso desses gozos, em prejuízo dos interesses da alma. É contra esse abuso que se previnem os que compreendem estas palavras de Jesus: O meu reino não é deste mundo.



Aquele que se identifica com a vida futura é semelhante a um homem rico, que perde uma pequena soma sem se perturbar; e aquele que concentra os seus pensamentos na vida terrestre é como o pobre que, ao perder tudo o que possui, cai em desespero.



7. O Espiritismo dá amplitude ao pensamento e abre-lhe novos horizontes. Em vez dessa visão estreita e mesquinha, que o concentra na vida presente, fazendo do instante que passa sobre a terra o único e frágil esteio do futuro eterno, ele nos mostra que esta vida é um simples elo do conjunto harmonioso e grandioso da obra do Criador, e revela a solidariedade que liga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Oferece, assim, uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma, no momento do nascimento de cada corpo, faz que todos os seres sejam estranhos uns aos outros. Essa solidariedade das partes de um mesmo todo explica o que é inexplicável, quando apenas consideramos uma parte. Essa visão de conjuntos, os homens do tempo de Cristo não podiam compreender, e por isso o seu conhecimento foi reservado para mais tarde.



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In O Evangelho Segundo o Espiritismo

Cap. XV, item 3 – Allan Kardec



3. Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, ou seja, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinamentos, mostra essas virtudes como sendo o caminho da felicidade eterna. Bem-aventurados, diz ele, os pobres de espírito, - quer dizer: os humildes, - porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que têm coração puro; bem aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os Misericordiosos. Amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que desejaríeis que vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quereis ser perdoados; fazei o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos antes de julgar os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar, e o de que ele mesmo dá o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não cessa de combater. Mas ele fez mais do que recomendar a caridade, pondo-a claramente, em termos explícitos, como a condição absoluta da felicidade futura.



No quadro que Jesus apresenta, do juízo final, como em muitas outras coisas, temos de separar o que pertence à figura e à alegoria. A homens como aos que falava, ainda incapazes de compreender as coisas puramente espirituais, devia apresentar imagens materiais, surpreendentes e capazes de impressionar. Para que fossem melhor aceitas, não podia mesmo afastar-se muito das idéias em voga, no tocante à forma, reservando sempre para o futuro a verdadeira interpretação das suas palavras e dos pontos que ainda não podia explicar claramente. Mas, ao lado da parte acessória ou figurada do quadro, há uma idéia dominante: a da felicidade que espera o justo e da infelicidade reservada ao mau.



Nesse julgamento supremo, quais são os considerandos da sentença? Sobre o que baseia a inquirição? Pergunta o juiz se foram atendidas estas ou aquelas formalidades, observadas mais ou menos estas ou aquelas práticas exteriores? Não, ele só pergunta por uma coisa: a prática da caridade. E se pronuncia dizendo: "Passai à direita, vós que socorrestes aos vossos irmãos; passai à esquerda, vós que fostes duros para com eles." Indaga pela ortodoxia da fé? Faz distinção entre o que crê de uma maneira, e o que crê de outra? Não, pois Jesus coloca o samaritano, considerado herético, mas que tem amor ao próximo, sobre o ortodoxo a quem falta caridade. Jesus não faz, portanto, da caridade, uma das condições da salvação, mas a condição única. Se outras devessem ser preenchidas, ele as mencionaria. Se ele coloca a caridade na primeira linha entre as virtudes, é porque ela encerra implicitamente todas as outras; a humildade, a mansidão, a benevolência, a justiça etc; e porque é ela a negação absoluta do orgulho e do egoísmo.



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In O Evangelho Segundo o Espiritismo

Cap. XXIII, item 6 – Allan Kardec



Sem discutir as palavras, devemos procurar compreender o pensamento, que era evidentemente este: Os interesses da vida futura estão acima de todos os interesses e todas as considerações de ordem humana, porque isto concorda com a essência da doutrina de Jesus, enquanto a idéia do abandono da família seria a sua negação.



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In O Evangelho Segundo o Espiritismo

Cap. XXIV, item 19 – Allan Kardec



19. Regozijai-vos, disse Jesus, quando os homens vos odiarem e vos perseguirem por minha causa, porque sereis recompensados no céu. Essas palavras podem ser interpretadas assim: Sede felizes quando os homens, tratando-vos com má vontade, vos derem a ocasião de provar a sinceridade de vossa fé, porque o mal que eles vos fizerem resultará em vosso proveito. Lamentai- lhes a cegueira, mas não os amaldiçoeis



Após isso, acrescenta: "Tome a sua cruz aquele que me quer seguir", isto é: que suporte corajosamente as tribulações que a sua fé provocar, pois aquele que quiser salvar a sua vida e os seus bens, renunciando a mim, perderá as vantagens do Reino dos Céus, enquanto os que tudo perderem aqui em baixo, até mesmo a vida, para o triunfo da verdade, receberão na vida futura prêmio da coragem, da perseverança e da abnegação. Mas para os que sacrificam os bens celestes aos gozos terrenos, Deus dirá: Já recebestes a vossa recompensa.



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I O NADA. A VIDA FUTURA
In O Livro dos Espíritos
Livro quatro – cap II



O homem repele instintivamente o nada, porque o nada não existe. (LE - 958)



O sentimento instintivo da vida futura vem para o homem desde antes da encarnação. O Espírito conhece todas essas coisas, e a alma guarda uma vaga lembrança do que sabe e do que viu no estado espiritual. (LE - 959) (Vide, também, q 393).

393. Como pode o homem ser responsável por atos e resgatar faltas dos quais não se recorda? Como pode aproveitar-se da experiência adquirida em existências que caíram no esquecimento? Seria concebível que as tribulações da vida fossem para ele uma lição, se pudesse lembrar-se daquilo que as atraiu, mas desde que não se recorda, cada existência é para ele como se fosse a primeira, e é assim que ele está sempre a recomeçar. Como conciliar isto com a justiça de Deus?

-- A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu mérito, se ele se recordasse de todo o passado? Quando o Espírito entra na sua vida de origem (a vida espírita), toda a sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas cometidas e que são causa do seu sofrimento, bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de cometê-las; compreende a justiça da posição que lhe é dada e procura então a existência necessária a reparar a que acaba de escoar-se. Procura provas semelhantes àquelas por que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu adiantamento, e pede a Espíritos que lhe são superiores para o ajudarem na nova tarefa a empreender porque sabe que o Espírito que lhe será dado por guia nessa nova existência procurará fazê-lo reparar suas faltas, dando-lhe uma espécie de intuição das que ele cometeu. Essa mesma intuição é o pensamento, o desejo criminoso que freqüentemente vos assalta e ao qual resistis instintivamente, atribuindo a vossa resistência, na maioria das vezes, aos princípios que recebestes de vossos pais, enquanto é a voz da consciência que vos fala, e essa voz é a recordação do passado, voz que vos adverte para não cairdes nas faltas anteriormente cometidas. Nessa nova existência, se o Espírito sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si próprio e ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando voltar para o meio deles.



NOTA DE ALLAN KARDEC - Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado, às quais a nossa consciência, que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas, adverte que devemos resistir.

NOTA DE ALLAN KARDEC - Em todos os tempos o homem se preocupou com o futuro de além túmulo, o que é muito natural. Qualquer que seja a importância dada à vida presente, ele não pode deixar de considerar quanto é curta e sobretudo precária, pois pode ser interrompida a cada instante e jamais ele se acha seguro do dia de amanhã. Em que se tornará depois do instante fatal? A pergunta é grave, pois não se trata de alguns anos, mas da eternidade. Aquele que deve passar longos anos num país estrangeiro se preocupa com a situação em que se encontrará no mesmo. Como não nos preocuparmos com a que teremos ao deixar este mundo, desde que o será para sempre?



A idéia do nada tem algo que repugna à razão. O homem mais despreocupado nesta vida, chegado o momento supremo pergunta a si mesmo o que será feito dele e involuntariamente fica na expectativa.



Crer em Deus sem admitir a vida futura seria um contra-senso. O sentimento de uma existência melhor está no foro íntimo de todos os homens e Deus não os pôs ali à toa.



A vida futura implica a conservação da nossa individualidade após a morte. Que nos importaria sobreviver ao corpo, se a nossa essência moral tivesse de perder-se no oceano do infinito? As conseqüências disso para nós seriam as mesmas do nada.

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II INTUIÇÃO DAS PENAS E DOS GOZOS FUTUROS

In O Livro dos Espíritos
Livro quatro – cap II



A crença, que se encontra em todos os povos, sobre as penas e recompensas futuras procede do pressentimento da realidade, dado ao homem pelo seu Espírito. Porque não é à toa que uma voz interior nos fala, mas o nosso mal é não escutá-la sempre. Se observássemos bem isso, com a devida freqüência, nos tornaríamos melhores. (LE - 960)



O sentimento que domina a maioria dos homens no momento da morte é

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a dúvida para os céticos endurecidos;
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o medo, para os culpados;
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a esperança para os homens de bem. (LE - 961)

Apesar do pressentimento da vida futura e das coisas espirituais que o homem trás em si, há céticos, mas são em menor número do que supomos. Muitos se fazem de espírito forte durante esta vida por orgulho, mas no momento da morte não se conservam tão fanfarrões. (LE - 962)

NOTA DE ALLAN KARDEC - A conseqüência da vida futura decorre da responsabilidade dos nossos atos. A razão e a justiça nos dizem que, na distribuição da felicidade a que todos os homens aspiram, os bons e os maus não poderiam ser confundidos. Deus não pode querer que uns gozem dos bens sem trabalho e outros só o alcancem com esforço e perseverança.



A idéia que Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade, pela sabedoria de suas leis, não nos permite crer que o justo e o mau estejam aos seus olhos no mesmo plano, nem duvidar de que não recebam algum dia, um a recompensa e outro o castigo pelo bem e pelo mal que tiverem feito. É por isso que o sentimento inato da justiça nos dá a intuição das penas e das recompensas futuras.

O homem de uma certa maneira fez idéias muito grosseiras e absurdas das penas e dos gozos da vida futura, porque a inteligência ainda não lhe foi suficientemente desenvolvida. Assim é também a criança, não compreende da mesma maneira que o adulto. Aliás, isso depende também do que se tenha ensinado: é nesse ponto que há necessidade de uma reforma. Nossa linguagem é muito imperfeita para exprimir o que existe além do nosso alcance. Por isso foi necessário fazer comparações, sendo essas imagens e figuras tomadas como a própria realidade. Mas à medida que o homem se esclarece, seu pensamento compreende as coisas que a sua linguagem não pode traduzir. (LE - 966)



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O ponto de vista

REVISTA ESPÍRITA

Jornal de Estudos Psicológicos

publicada sobre a direção de Allan Kardec



julho de 1862



Não há ninguém que não tenha notado o quanto as coisas mudam de aspecto, segundo o ponto de vista sob o qual são consideradas; não é somente o aspecto que se modifica, mas ainda a própria importância da coisa. Que se coloque no centro de um meio qualquer, fosse ele pequeno, parece imenso; que se coloque fora, parecerá todo outro. Tal que vê uma coisa do alto de uma montanha a acha insignificante, enquanto que, na base da montanha, lhe parece gigantesca.



Isto é um efeito de ótica, mas que se aplica igualmente às coisas morais. Ficai um dia inteiro no sofrimento, ele vos parecerá eterno; à medida que esse dia se afasta de vós, vos admirais de ter podido vos desesperar por tão pouco. Os pesares da infância têm também sua importância relativa, e, para a criança, são todos tão amargos quanto os da idade madura. Por que, pois, nos parecem tão fúteis? Porque não o somos mais, ao passo que a criança o é inteiramente, e não vê além de seu pequeno círculo de atividade; ela os vê do interior, nós os vemos do exterior. Suponhamos um ser colocado, em relação a nós, na posição em que estamos em relação à criança, ele julgará nossos cuidados do mesmo ponto de vista, e os achará pueris.



Um carreteiro é insultado por um carreteiro; eles discutem e se batem; que um grande senhor seja injuriado por um carreteiro, com isso não se crera ofendido, e não se baterá com ele. Por que isto? Porque se coloca fora de sua esfera: Crê-se de tal modo superior que a ofensa não pode atingi-lo; mas que ele desça ao nível de seu adversário, que se coloque, pelo pensamento, no mesmo meio, e se baterá.



O Espiritismo nos mostra uma aplicação desse princípio, se bem que de outro modo importante em suas conseqüências. Faz-nos ver a vida terrestre por aquilo que ela é, nos colocando no ponto de vista da vida futura; pelas provas materiais que dela nos fornece, pela intuição límpida, precisa, lógica que dela nos dá, pelos exemplos que coloca sob nossos olhos, e a ela nos transporta pelo pensamento: é vista, é compreendida; não é mais essa noção vaga, incerta, problemática, que se nos ensina do futuro, e que, involuntariamente, deixa dúvidas; para o Espírita, é uma certeza adquirida, é uma realidade.



Faz mais ainda: mostra-nos a vida da alma, o ser essencial, uma vez que é o ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida, e se estendendo indefinidamente no futuro, de tal sorte que a vida terrestre, fosse ela de um século, não é mais do que um ponto nesse longo percurso. Se a vida inteira é tão pouca coisa, comparada à vida da alma, que serão, pois, os incidentes da vida? E, no entanto, o homem, colocado no centro desta vida, com ela se preocupa como se devesse durar sempre; tudo toma para ele proporções colossais: a menor pedra que o choque lhe parece um rochedo; uma decepção o desespera; um fracasso o abate; uma palavra coloca-o furioso. Sua visão, limitada ao presente, ao que o toca imediatamente, lhe exagera a importância dos menores incidentes; um negócio não realizado lhe tira o apetite; uma questão de precedência é um negócio de Estado; uma injustiça coloca-o fora de si. Conseguir é o objetivo de todos os seus esforços, objeto de todas as suas combinações; mas, para a maioria, o que é conseguir? É, se não se tem do que viver, se criar, por meios honestos, uma existência tranqüila? E a nobre emulação de adquirir talento e desenvolver sua inteligência? É o desejo de deixar, depois de si, um nome justamente honrado, e realizar trabalhos úteis para a Humanidade? Não; conseguir, é superar seu vizinho, eclipsá-lo, é afastá-lo, transtorná-lo mesmo, para se colocar em seu lugar; e, por esse belo triunfo, do qual a morte não deixará talvez gozar vinte e quatro horas, que de cuidados, que de tributações! Quanto de gênio mesmo dispensa, algumas vezes, que teria podido ser mais utilmente empregado! Depois, quanto de raiva, quanto de insônias se não se triunfa! Que febre de ciúme causa o sucesso de um rival! Então, prende-se à sua má estrela, à sua sorte, à sua chance fatal, ao passo que a má estrela, o mais freqüentemente, é a imperícia e a incapacidade. Dir-se-á, verdadeiramente, que o homem toma a tarefa de tornar tão penosos quanto possível os poucos instantes que deve passar sobre a Terra, e dos quais não é senhor, uma vez que o dia de amanhã jamais está assegurado.



Quanto todas essas coisas mudam de face, quando, pelo pensamento, o homem sai do estreito vale da vida terrestre, e se eleva na radiosa, esplêndida e incomensurável vida de além-túmulo! Quanto então, toma em piedade os tormentos que se criou à toa! Quanto, então, lhe parecem mesquinhas e pueris as ambições, os ciúmes, as suscetibilidades, as vãs satisfações do orgulho! Parece-lhe da idade madura considerar as brincadeiras da infância; do alto de uma montanha, considerar os homens no vale. Partindo deste ponto de vista, torna-se, voluntariamente, o joguete de uma ilusão? Não; ao contrário, está na realidade, na verdade, e a ilusão, para ele, é quando vê as coisas do ponto de vista terrestre. Com efeito, não há ninguém sobre a Terra que não ligue mais importância ao que, para ele, deve durar muito tempo, do que ao que não deve durar senão um dia; que não prefere uma felicidade durável a uma alegria efêmera. Inquieta-se pouco com um desagrado passageiro; o que interessa acima de tudo é a situação normal. Se pois, eleva-se seu pensamento de modo a abarcar a vida da alma, forçosamente, chega-se a esta conseqüência, de que assim se percebe a vida terrestre como uma estação momentânea; que a vida espiritual é a vida real, porque ela é indefinida; que a ilusão é a de tomar a parte pelo todo, quer dizer, a vida do corpo, que não é senão transitória, pela vida definitiva. O homem que não considera as coisas senão do ponto de vista terrestre é como aquele que, estando no interior de uma casa, não pode julgar nem da forma, nem da importância do edifício; julga sobre as falsas aparências, porque não pode ver tudo; ao passo que aquele que vê de fora, só ele podendo julgar o conjunto, julga mais sadiamente.



Para ver as coisas desta maneira, dir-se-á, é preciso uma inteligência pouco comum, um espírito filosófico que não se saberia encontrar nas massas; de onde seria preciso concluir que, com poucas exceções, a Humanidade se arrastará sempre no terra-a-terra. É um erro; para se identificar com a vida futura não é preciso uma inteligência excepcional, nem grandes esforços de imaginação, porque cada um dela leva consigo a intuição e o desejo; mas a maneira pela qual se a apresenta, geralmente, é muito pouco sedutora, uma vez que oferece por alternativa as chamas eternas ou uma contemplação perpétua, o que faz com que muitos achem o nada preferível; de onde a incredulidade absoluta em alguns, e a dúvida na maioria. O que faltou até o presente foi a prova irrecusável da vida futura, e esta prova o Espiritismo vem dá-la, não mais por uma teoria vaga, mas por fatos patentes. Bem mais, mostra tal como a razão, a mais severa, pode aceitá-la, porque explica tudo, justifica tudo, e resolve todas as dificuldades. Por isso mesmo é que ela é clara e lógica, e está ao alcance de todo o mundo; eis porque o Espiritismo conduz à crença tantas pessoas que dela tinham se afastado. A experiência demonstra, cada dia, que o simples artesão, que os camponeses sem instrução, compreendem esse raciocínio sem esforços; colocam-se nesse novo ponto de vista tanto mais de boa vontade quanto nele encontram, como todas as pessoas infelizes, uma imensa consolação, e a única compensação possível em sua penosa e laboriosa existência.



Se esta maneira de encarar as coisas terrestres se generalizasse, não teria por conseqüência destruir a ambição, estimulando grandes empreendimentos, trabalhos mais úteis, mesmo obras de gênio? Se a Humanidade inteira não pensasse mais senão na vida futura tudo não periclitaria neste mundo? Que fazem os monges nos conventos, se não é se ocupar exclusivamente do céu? Ora, em que se tornaria a Terra se todo mundo se fizesse monge?



Um tal estado de coisas seria desastroso, e os inconvenientes maiores do que se pensa, porque os homens a perderiam sobre a Terra e não ganhariam nada dela no céu; mas o resultado do princípio que expomos é inteiramente outro para quem não a compreenda pela metade, assim como a explicamos.



A vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa cumprir no mundo material as funções que lhe são destinadas pela Providência: é um dos órgãos da harmonia universal. A atividade que está forçada a desdobrar nas funções que exerce com o seu desconhecimento, crendo não agir senão por si mesma, que ajuda o desenvolvimento de sua inteligência e facilita seu adiantamento. A felicidade do Espírito na vida espiritual, sendo proporcional ao seu adiantamento e ao bem que pôde fazer como homem, disso resulta que quanto mais a vida espiritual adquire importância aos olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que for possível para nela assegurar o melhor lugar possível. A experiência daqueles que viveram vem provar que uma vida terrestre inútil ou mal empregada é sem proveito para o futuro, e que aqueles que não procuram neste mundo senão as satisfações materiais as pagam bem caro, seja pelos seus sofrimentos no mundo dos Espíritos, seja pela obrigação, em que estão, de recomeçar sua tarefa em condições mais penosas do quê no passado, e tal é o caso de muitos daqueles que sofrem sobre a Terra. Portanto, considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extra-corpóreo, o homem, longe de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho. Falando do ponto de vista terrestre, esta necessidade é uma injustiça, aos seus olhos, quando se compara com aqueles que podem viver sem fazer nada: tem-lhes ciúme, os inveja. Falando do ponto de vista espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e a aceita sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho, ficaria indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira, e que não saberia esperar se não se desenvolve intelectualmente e moralmente. Sob este aspecto, muitos monges nos parecem mal compreenderem o objetivo da vida terrestre, e ainda menos as condições da vida futura. Pela seqüestração, se privam dos meios de se tornarem úteis aos seus semelhantes, e muitos daqueles que estão hoje no mundo dos Espíritos, nos confessaram estar estranhamente enganados, e sofrer as conseqüências de seus erros.



Este ponto de vista tem para o homem uma outra conseqüência imensa e imediata: é a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida. Que ele procure se proporcionar o bem-estar, a passar o mais agradavelmente possível o tempo de sua existência sobre a Terra, é muito natural e nada o proíbe. Mas, sabendo que não está neste mundo senão momentaneamente, que um futuro melhor o espera, atormenta-se pouco com as decepções que experimenta, e, vendo as coisas do alto, toma seus fracassos com menos amargura; permanece indiferente aos tormentos dos quais é alvo da parte dos invejosos e dos ciumentos; reduz ao seu justo valor os objetos de sua ambição, e se coloca acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio. Livre dos cuidados que se crê o homem que não sai de sua estreita esfera, pela perspectiva grandiosa que se abre diante dele, não é senão mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso para si mesmo e para os outros. As afrontas, as diatribes, as maldades de seus inimigos não são para ele senão imperceptíveis nuvens num imenso horizonte; não se inquieta mais do que as moscas que zumbem aos seus ouvidos, porque sabe que delas logo estará livre; também todas as pequenas misérias que se lhe suscita, escorregam sobre ele como a água sobre o mármore. Colocando-se do ponto de vista terrestre, com isso se irritaria, disso se vingaria talvez; do ponto de vista extra-terrestre, os despreza como salpicos de um mal-estar passageiro. Esses são espinhos lançados sobre sua senda, e sobre os quais passa, sem mesmo se dar ao trabalho de afastá-los, para não demorar sua caminhada para o objetivo mais sério que se propôs alcançar. Longe de querer o mesmo aos seus inimigos, ele lhes sabe agradecer por fornecer-lhe a ocasião de exercer a sua paciência a e sua moderação, em proveito de seu adiantamento futuro, ao passo que disso perderia o fruto se se rebaixasse em represálias. Lamenta-os por se darem a tantas penas inúteis, e se diz que são eles mesmos que caminham sobre os espinhos pelos cuidados que tomam para fazer o mal. Tal é o resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se considera a vida: um vos dá confusões e ansiedade; o outro a calma e a serenidade. Espíritas que sentis decepções, deixai um instante a Terra, pelo pensamento; subi às regiões do infinito e olhai do alto: vereis o que elas serão.



Diz-se algumas vezes. Vós que sois infelizes, olhai abaixo de vós e não acima, e com isso vereis mais infelizes ainda. Isto é muito verdadeiro, mas muitas pessoas se dizem que o mal dos outros não cura o seu. O remédio não está sempre senão na comparação, e ocorre para os quais é difícil não olhar para o alto e dizer-se: "Por que este tem o que não tenho?" Ao passo que se colocando no ponto de vista do qual falamos, aquele em que, forçosamente, estaremos um pouco à frente, se está, muito naturalmente, acima daqueles que poderíamos invejar, porque, daí, os maiores parecem bem pequenos.



Lembramo-nos de ter visto representar no Odéon, há uns quarenta anos, uma peça em um ato, intitulada lês Ephémères, não sabemos mais de que autor; mas, embora jovem então, ela nos causou uma viva impressão. A cena se passava no país dos Ephémères, cujos habitantes não vivem senão vinte e quatro horas. No espaço de um ato, se os vê passar do berço à adolescência, à juventude, à idade madura, à velhice, à decrepitude e à morte. Nesse intervalo, cumprem todos os atos da vida: batismo, casamento, negócios civis e governamentais, etc.; mas como o tempo é curto e as horas contadas, é preciso se apressar; também tudo se faz com uma rapidez prodigiosa, o que não lhes impede de se ocupar de intrigas, e de se darem muito trabalho para satisfazer sua ambição, e se superarem uns aos outros. Esta peça, como se vê, encerrava um pensamento profundamente filosófico, e involuntariamente o espectador, que via num instante se desenrolar todas as fases de uma existência bem cheia, se punha a dizer: Quanto essas pessoas são tolas em se darem tanto mal por tão pouco tempo que têm para viver! Que lhes resta das confusões de uma ambição de algumas horas? Não fariam melhor viverem em paz?



Está bem aí o quadro da vida humana vista do alto. A peça, no entanto, não viveu pouco mais que seus heróis: não foi compreendida. Se o autor vivesse ainda, o que ignoramos, provavelmente hoje seria espírita.



A.K.



* * *

Allan Kardec, in OBRAS PÓSTUMAS sobre A VIDA FUTURA (1ª. Parte)



"O homem não se preocupará com a vida futura senão quando vir nela um fim claro e positivamente definido, uma situação lógica, em correspondência com todas as suas aspirações, que resolva todas as dificuldades do presente e em que se lhe depare coisa alguma que a razão não possa admitir. Se ele se preocupa com o dia seguinte, é porque a vida do dia seguinte se liga intimamente à vida do dia anterior; uma e outra são solidárias; ele sabe que do que fizer hoje depende a sua posição amanhã e do que fizer amanhã dependerá a sua posição no dia imediato e assim por diante.


"Tal tem de ser para ele a vida futura, quando esta não se mais achar perdida nas nebulosidades das abstrações e for uma atualidade palpável complemento necessário da vida presente, uma das fases da vida geral, como os dias são fases da vida corporal. Quando vir o presente reagir sobre o futuro, pela força das coisas, e, sobretudo, quando compreender a reação do futuro sobre o presente; quando, em suma, verificar que o passado, o presente e o futuro se encadeiam por inflexível necessidade, como o ontem, o hoje e o amanhã na vida atual, oh! então suas idéias mudarão completamente, porque ele verá na vida futura não só um fim, como também um meio; não um efeito distante, mas atual. Então, igualmente, essa crença exercerá sem dúvida, e por conseqüência toda natural, ação preponderante sobre o estado social e sobre a moralização da Humanidade.


Tal o ponto de vista donde o Espiritismo nos faz considerar a vida futura."



* * *



RESUMO:



· Jesus se refere claramente à vida futura



· Sem a vida futura, com efeito, a maior parte dos preceitos de moral de Jesus não teriam nenhuma razão de ser.



· O dogma da vida futura pode ser considerado como o ponto central do ensinamento do Cristo.



· Jesus veio nos revelar que existe outro mundo, onde a justiça de Deus se realiza. É esse mundo que ele promete aos que observam os mandamentos de Deus. É nele que os bons são recompensados. Esse mundo é o seu reino, no qual se encontra em toda a sua glória, e para o qual voltará ao deixar a Terra.



· Jesus se limitou a colocar, de certo modo, a vida futura como um princípio, uma lei da natureza, à qual ninguém pode escapar. Todo cristão, portanto, crê forçosamente na vida futura, mas a idéia que muitos fazem dela é vaga, incompleta, e por isso mesmo falsa em muitos pontos. Para grande número, é apenas uma crença, sem nenhuma certeza decisiva, e daí as dúvidas, e até mesmo a incredulidade.



· Com o Espiritismo, a vida; futura não é mais simples artigo de fé, ou simples hipótese. É uma realidade material, provada pelos fatos.



· A descrição da vida futura é de tal maneira circunstanciada, são tão racionais as condições da existência feliz ou infeliz do que nela se encontram, que acabamos por concordar que não podia ser de outra maneira, e que ela bem representa a verdadeira justiça de Deus.



O Espiritismo faz-nos ver a vida terrestre por aquilo que ela é, nos colocando no ponto de vista da vida futura;

· pelas provas materiais que dela nos fornece,

· pela intuição límpida, precisa, lógica que dela nos dá,

· pelos exemplos que coloca sob nossos olhos, e a ela nos transporta pelo pensamento:

o é vista, é compreendida;

o não é mais essa noção vaga, incerta, problemática, que se nos ensina do futuro, e que, involuntariamente, deixa dúvidas;

o para o Espírita, é uma certeza adquirida, é uma realidade.

O Espiritismo faz mais ainda:

· mostra-nos a vida da alma, o ser essencial, uma vez que é o ser pensante, remontando no passado a uma época desconhecida, e se estendendo indefinidamente no futuro, de tal sorte que a vida terrestre, fosse ela de um século, não é mais do que um ponto nesse longo percurso.

Se pois, o homem, eleva seu pensamento de modo a abarcar a vida da alma, forçosamente, chega-se a esta conseqüência, de que assim se percebe a vida terrestre

· como uma estação momentânea;

· que a vida espiritual é a vida real, porque ela é indefinida;

· que a ilusão é a de tomar a parte pelo todo, quer dizer, a vida do corpo, que não é senão transitória, pela vida definitiva.

Para ver as coisas conforme a vida futura, dir-se-á, é preciso uma inteligência pouco comum,

· um espírito filosófico que não se saberia encontrar nas massas;

· de onde seria preciso concluir que, com poucas exceções, a Humanidade se arrastará sempre no terra-a-terra.

É um erro;

· para se identificar com a vida futura não é preciso uma inteligência excepcional, nem grandes esforços de imaginação, porque cada um dela leva consigo a intuição e o desejo;

mas a maneira pela qual se a apresenta, geralmente, é muito pouco sedutora, uma vez que oferece por alternativa as chamas eternas ou uma contemplação perpétua, o que faz com que muitos achem o nada preferível; de onde a incredulidade absoluta em alguns, e a dúvida na maioria. O que faltou até o presente foi a prova irrecusável da vida futura, e

· esta prova o Espiritismo vem dá-la, não mais por uma teoria vaga, mas por fatos patentes.

Bem mais, mostra tal como a razão, a mais severa, pode aceitá-la, porque explica tudo, justifica tudo, e resolve todas as dificuldades. Por isso mesmo é que ela é clara e lógica, e está ao alcance de todo o mundo;

· eis porque o Espiritismo conduz à crença tantas pessoas que dela tinham se afastado.

A experiência demonstra, cada dia, que o simples artesão, que os camponeses sem instrução, compreendem esse raciocínio sem esforços; colocam-se nesse novo ponto de vista tanto mais de boa vontade quanto nele encontram, como todas as pessoas infelizes, uma imensa consolação, e a única compensação possível em sua penosa e laboriosa existência.

· A vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa cumprir no mundo material as funções que lhe são destinadas pela Providência: é um dos órgãos da harmonia universal.



· quanto mais a vida espiritual adquire importância aos olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que for possível para nela assegurar o melhor lugar possível.



· considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extra-corpóreo, o homem, longe de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho.



· do ponto de vista espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e a aceita sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho, ficaria indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira, e que não saberia esperar se não se desenvolve intelectualmente e moralmente.

A vida futura tem para o homem uma outra conseqüência imensa e imediata:

· é a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida.

Que ele procure se proporcionar o bem-estar, a passar o mais agradavelmente possível o tempo de sua existência sobre a Terra, é muito natural e nada o proíbe. Mas, sabendo que não está neste mundo senão momentaneamente, que um futuro melhor o espera,

· atormenta-se pouco com as decepções que experimenta, e, vendo as coisas do alto, toma seus fracassos com menos amargura;

· permanece indiferente aos tormentos dos quais é alvo da parte dos invejosos e dos ciumentos;

· reduz ao seu justo valor os objetos de sua ambição, e se coloca acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio.

Livre dos cuidados que se crê o homem que não sai de sua estreita esfera,

· pela perspectiva grandiosa que se abre diante dele, não é senão mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso para si mesmo e para os outros.

As afrontas, as diatribes, as maldades de seus inimigos não são para ele senão imperceptíveis nuvens num imenso horizonte; não se inquieta mais do que as moscas que zumbem aos seus ouvidos, porque

· sabe que delas logo estará livre;

também todas as pequenas misérias que se lhe suscita, escorregam sobre ele como a água sobre o mármore.



...o resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se considera a vida:

· Sem a vida futura há confusões e ansiedade;

· Com a vida futura há calma e serenidade.

A ESCALA ESPÍRITA

ESTUDO


DIFERENTES ORDENS DE ESPÍRITOS

In O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Obra codificada por Allan Kardec

Texto semelhante pode ser encontrado na Revista Espírita

Jornal de Estudos psicológicos publicada sobre a direção de Allan Kardec,

fevereiro de 1858



Os Espíritos são de diferentes ordens, segundo o grau de perfeição a que tenham chegado. (LE – 96)


O número dessas ordens é ilimitado, pois não há entre elas uma linha de demarcação, traçada como barreira, de maneira que se podem multiplicar ou restringir as divisões, à vontade. Não obstante, se considerarmos os caracteres gerais, poderemos reduzi-las a três ordens principais.
*

Na primeira ordem, podemos colocar os que já chegaram à perfeição; os Espíritos puros.
*

Na segunda ordem, estão os que chegaram ao meio da escala: o desejo do bem é a sua preocupação.
*

Na terceira ordem, os que estão ainda na base da escala: os Espíritos imperfeitos, que se caracterizam pela ignorância, o desejo do mal e todas as más paixões que lhes retardam o desenvolvimento. (LE – 97)


Os Espíritos da segunda ordem têm o desejo do bem e possuem a condição de fazê-lo de acordo com o grau do progresso espiritual conquistado: uns possuem a ciência; outros a sabedoria e a bondade, entretanto todos ainda têm provas a sofrer. (LE – 98)

Os Espíritos da terceira ordem não são todos essencialmente maus:

*

uns não fazem bem nem mal;
*

outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-la.
*

Há ainda Espíritos levianos ou estouvados, mais travessos do que malignos, que se comprazem mais na malícia do que na maldade, encontrando prazer em mistificar e causar pequenas contrariedades, das quais se riem. (LE – 99)

ESCALA ESPÍRITA

OBSERVAÇÕES PRELIMINARES. (LE – 100)


A classificação dos Espíritos funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram.

*

Esta classificação nada tem de absoluta:
*

Nenhuma categoria apresenta caráter bem definido, a não ser no conjunto:

De um grau a outro a transição é insensível, pois, nos limites, as diferenças se apagam, como nos reinos da Natureza, nas cores do arco-íris ou ainda nos diferentes períodos da vida humana.

Pode-se, portanto, formar um número maior ou menor de classes, de acordo com a maneira por que se considerar o assunto.

Acontece o mesmo que em todos os sistemas de classificação científica:

*

os sistemas podem ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos para a inteligência;

mas, sejam como forem, nada alteram quanto à substância da Ciência.



Os Espíritos, interpelados sobre isto, puderam, pois, variar quanto ao número das categorias, sem maiores conseqüências.

Houve quem se apegasse a esta contradição aparente, sem refletir que eles não dão nenhuma importância ao que é puramente convencional.

Para eles o pensamento é tudo:

*

deixam-nos os problemas da forma, da escolha dos termos, das classificações, em uma palavra, dos sistemas.


Ajuntemos ainda esta consideração, que jamais se deve perder de vista:

*

Entre os Espíritos, como entre os homens, há os que são muito ignorantes, e nunca será demais estarmos prevenidos contra a tendência a crer que eles tudo sabem, por serem Espíritos.

*

Toda classificação exige método, análise e conhecimento aprofundado do assunto.

· No mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos limitados são como os ignorantes deste mundo, incapazes de apreender um conjunto e formular um sistema;

· Eles não conhecem ou não compreendem senão imperfeitamente qualquer classificação;

· Para eles, todos os Espíritos que lhes sejam superiores são de primeira ordem, pois não podem apreciar as suas diferenças de saber, de capacidade e de moralidade, como entre nós faria um homem rude em relação aos homens ilustrados.

E aqueles mesmos que sejam capazes, podem variar nos detalhes, segundo os seus pontos de vista, sobretudo quando uma divisão nada tem de absoluto.

Linneu, Jussieu, Tournefort, tiveram cada qual o seu método e a Botânica não se alterou por isso. E que eles não inventaram nem as plantas, nem os seus caracteres, mas apenas observaram as analogias, segundo as quais formaram os grupos e as classes.

Foi assim que procedemos.

*

Nós também não inventamos os Espíritos nem os seus caracteres.
*

Vimos e observamos; julgamos pelas suas palavras e os seus atos, e depois os classificamos pelas semelhanças, baseando-nos nos dados que eles nos forneceram.

Os Espíritos admitem, geralmente, três categorias principais ou três grandes divisões

*

Na última, aquela que se encontra na base da escala, estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o espírito e pela propensão ao mal.


*

Os da segunda se caracterizam pela predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem:


são os Espíritos bons.
*

A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição.



Esta divisão nos parece perfeitamente racional e apresenta caracteres bem definidos; não nos resta senão destacar, por um número suficiente de subdivisões, as nuanças principais do conjunto. Foi o que fizemos, com o concurso dos Espíritos, cujas benevolentes instruções jamais nos faltaram.



Com a ajuda deste quadro será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em relação, e, por conseguinte o grau de confiança e de estima que eles merecem. Esta é de alguma maneira, a chave da Ciência espírita, pois só ela pode explicar-nos as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as irregularidades intelectuais e morais dos Espíritos.



Observaremos, entretanto, que



*

os Espíritos não pertencem para sempre e exclusivamente a esta ou àquela classe;
*

o seu progresso se realiza gradualmente, e como muitas vezes se efetua mais num sentido que noutro,
*

eles podem reunir as características de várias categorias, o que é fácil avaliar por sua linguagem e seus atos.





TERCEIRA ORDEM:

ESPÍRITOS IMPERFEITOS



CARACTERES GERAIS. (LE – 101)



*

Predominância da matéria sobre o Espírito.



*

Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões conseqüentes. Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.



*

Nem todos são essencialmente maus; em alguns, há mais leviandade.



*

Uns não fazem o bem, nem o mal; mas, pelo simples fato de não fazerem o bem, revelam a sua inferioridade. Outros, pelo contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-la.



*

Podem aliar a inteligência à maldade ou à malícia: mas, qualquer que seja o seu desenvolvimento intelectual, suas idéias são pouco elevadas e os seus sentimentos mais ou menos abjetos.



*

Os seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados, e o pouco que sabem a respeito se confunde com as idéias e os preconceitos da vida corpórea. Não podem dar-nos mais do que noções falsas e incompletas daquele mundo;



Mas o observador atento encontra freqüentemente, nas suas comunicações, mesmo imperfeitas.



*

A confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.



*

O caráter desses Espíritos se revela na sua linguagem.



*

Todo Espírito que, nas suas comunicações, trai um pensamento mau, pode ser colocado na terceira ordem;



o

por conseguinte, todo mau pensamento que nos for sugerido provém de um Espírito dessa ordem.



*

Vêem a felicidade dos bons, e essa visão é para eles um tormento incessante, porque lhes faz provar as angústias da inveja e do ciúme.



*

Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea, e essa impressão é freqüentemente mais penosa que a realidade.



*

Sofrem, portanto, verdadeiramente, pelos males que suportarem e pelos que acarretaram aos outros; e como sofrem por muito tempo, julgam sofrer para sempre. Deus, para os punir, quer que eles assim pensem.



Podemos dividi-los em cinco classes principais.



DÉCIMA CLASSE.

*

ESPÍRITOS IMPUROS. (LE – 102)



[ São inclinados ao mal e o fazem objeto de suas preocupações. Como Espíritos, dão conselhos pérfidos, insuflam a discórdia e a desconfiança e usam todos os disfarces para melhor enganar. Apegam-se às pessoas de caráter bastante fraco para cederem às suas sugestões, a fim de as levar à perda, satisfeitos de poderem retardar o seu adiantamento, ao faze-las sucumbir ante as provas que sofrem. Nas manifestações, reconhecem-se esses Espíritos pela linguagem: a trivialidade e a grosseria das expressões, entre os Espíritos como entre os homens, é sempre um índice de inferioridade moral, senão mesmo intelectual. Suas comunicações revelam a baixeza de suas inclinações, e se eles tentam enganar, falando de maneira sensata, não podem sustentar o papel por muito tempo e acabam sempre por trair a sua origem.



[ Alguns povos os transformaram em divindades malfazejas, outros os designam como demônios, gênios maus, Espíritos do mal.



[ Quando encarnados, inclinam-se a todos os vícios que as paixões vis e degradantes engendram: a sensualidade, a crueldade, a felônia, a hipocrisia, a cupidez e a avareza sórdida. Fazem o mal pelo prazer de fazê-la, no mais das vezes sem motivo, e, por aversão ao bem, quase sempre escolhem suas vítimas entre as pessoas honestas. Constituem verdadeiros flagelos para a Humanidade, seja qual for a posição social que ocupem e o verniz da civilização não os livra do opróbrio e da ignomínia.



NONA CLASSE.

*

ESPÍRITOS LEVIANOS. (LE – 103)



[ São ignorantes, malignos, inconseqüentes e zombeteiros. Metem-se em tudo e a tudo respondem sem se importarem com a verdade. Gostam de causar pequenas contrariedades e pequenas alegrias, de fazer intrigas, de induzir maliciosamente ao erro, por meio de mistificações e de espertezas. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente designados pelos nomes de duendes, diabretes, gnomos, trasgos. Estão sob a dependência de Espíritos superiores, que deles muitas vezes se servem o fazemos com os criados.



[ Nas suas comunicações com os homens, a sua linguagem é muitas vezes espirituosa e alegre, mas quase sempre sem profundidade; apanham as esquisitices e os ridículos humanos, que interpretam de maneira mordaz e satírica. Se tornam nomes supostos, é mais por malícia do que por maldade.



OITAVA CLASSE.

*

ESPÍRITOS PSEUDO-SÁBIOS. (LE – 104)



[ Seus conhecimentos são bastante amplos, mas julgam saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado alguns progressos em diversos sentidos, sua linguagem tem um caráter sério, que pode iludir quanto à sua capacidade e às suas luzes. Mas isso, freqüentemente, não é mais do que um reflexo dos preconceitos e das idéias sistemáticas que tiveram na vida terrena. Sua linguagem é uma mistura de algumas verdades com os erros mais absurdos, entre os quais repontam a presunção, o orgulho, a inveja e a teimosia de que não puderam despir-se.



SÉTIMA CLASSE.

*

ESPÍRITOS NEUTROS. (LE – 105)



[ Nem são bastante bons para fazerem o bem, nem bastante maus para fazerem o mal; tendem tanto para um como para outro e não se elevam sobre a condição vulgar da humanidade, quer pela moral ou pela inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, saudosos de suas grosseiras alegrias.



SEXTA CLASSE.

*

ESPÍRITOS BATEDORES E PERTURBADORES. (LE – 106)



[ Estes Espíritos não formam, propriamente falando, uma classe diferente quanto às suas qualidades pessoais, e podem pertencer a todas as classes da terceira ordem. Manifestam freqüentemente sua presença por efeitos sensíveis e físicos, como golpes, movimento e deslocamento anormal de corpos sólidos, do ar, etc. Parece que estão mais apegados à matéria do que os outros, sendo os agentes principais das vicissitudes dos elementos do globo, quer pela sua ação sobre o ar, a água, o fogo, os corpos sólidos, ou nas entranhas da Terra. Reconhece-se que esses fenômenos não são devidos a uma causa fortuita e física, quando têm um caráter intencional e inteligente. Todos os Espíritos podem produzir esses fenômenos, mas os Espíritos elevados os deixam, em geral, a cargo dos Espíritos subalternos, mais aptos para as coisas materiais que para as inteligentes. Quando julgam que as manifestações desse gênero são úteis, servem-se desses Espíritos como auxiliares.



SEGUNDA ORDEM

ESPÍRITOS BONS



CARACTERES GERAIS. (LE – 107)



[ Predomínio do Espírito sobre a matéria;

[ desejo do bem.



Suas qualidades e seu poder de fazer o bem estão na razão do grau que atingiram:



*

uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade;
*

os mais adiantados juntam ao seu saber as qualidades morais.



Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, segundo sua ordem, os traços da existência corpórea, seja na linguagem, seja nos hábitos, nos quais se encontram até mesmo algumas de suas manias. Se não fosse assim seriam Espíritos perfeitos.



Compreendem Deus e o infinito e gozam já da felicidade dos bons. Sentem-se felizes quando fazem o bem e quando impedem o mal. O amor que os une é para eles uma fonte de inefável felicidade, não alterada pela inveja nem pelos remorsos, ou por qualquer das paixões que atormentam os Espíritos imperfeitos; mas terão ainda passar por provas, até atingirem a perfeição absoluta.



Como Espíritos, suscitam bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem durante a vida aqueles que se tornam dignos e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos sobre os que não comprazem nela.



Quando encarnados,



· são bons e benevolentes para com os semelhantes;

· não se deixam levar pelo orgulho, nem pelo egoísmo, nem pela ambição;

· não provam ódio, nem rancor, nem inveja ou ciúme, fazendo o bem pelo bem.



A esta ordem pertencem os Espíritos designados nas crenças vulgares pelos nomes de bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Nos tempos de superstição e de ignorância, foram considerados divindades benfazejas. Podemos dividi-los em quatro grupos principais:



QUINTA CLASSE.

*

ESPÍRITOS BENÉVOLOS. (LE – 108)



[ Sua qualidade dominante é a bondade;

[ gostam de prestar serviços aos homens e de os proteger; mas o seu saber é limitado:

o seu progresso realizou-se mais no sentido moral que no intelectual.



QUARTA CLASSE.

*

ESPÍRITOS SÁBIOS. (LE – 109)



[ O que especialmente os distingue é a amplitude dos conhecimentos.

[ Preocupam-se menos com as questões morais do que com as científicas, para as quais têm mais aptidão;

o mas só encaram a Ciência pela sua utilidade, livre das paixões que são próprias dos Espíritos imperfeitos.



TERCEIRA CLASSE.

*

ESPÍRITOS PRUDENTES. (LE – 110)



[ Caracterizam-se pelas qualidades morais de ordem mais elevada. Sem possuir conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes permite julgar com precisão os homens e as coisas.



SEGUNDA CLASSE.

*

ESPÍRITOS SUPERIORES. (LE – 111)



[ Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade.

[ Sua linguagem, que só transpira benevolência, é sempre digna, elevada e freqüentemente sublime.

[ Sua superioridade os torna, mais que os outros, aptos a nos proporcionar as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites do que nos é dado conhecer.

[ Comunicam-se voluntariamente com os que procuram de boa fé a verdade, e cujas almas bastante libertas dos liames terrenos para a compreender; mas afastam-se dos que são movidos apenas pela curiosidade, ou que, pela influência da matéria, desviam-se da prática do bem.



[ Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso, e então nos oferecem o modelo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.



[ O tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem, para lhe servir de guia e modelo foi Jesus. (LE – 625) (*)



NOTA DE ALLAN KARDEC: Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque ele estava ANIMADO do Espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra. (Tradução de J. Herculano Pires)



PRIMEIRA ORDEM

ESPIRITOS PUROS



CARACTERES GERAIS. (LE – 112)



*

Nenhuma influência da matéria.



*

Superioridade intelectual e moral absoluta, em relação aos Espíritos das outras ordens.



PRIMEIRA CLASSE. (LE – 113

*

CLASSE ÚNICA



[ Percorreram todos os graus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Havendo atingido a soma de perfeições de que é suscetível a criatura, não têm mais provas nem expiações a sofrer. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que desfrutam no seio de Deus.



[ Gozam de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos nem às necessidades nem às vicissitudes da vida material, mas essa felicidade não é a de uma ociosidade monótona, vivida em contemplação perpétua. São os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam, para a manutenção da harmonia universal. Dirigem a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoarem e determinam as suas missões. Assistir os homens nas suas angústias, incitá-los ao bem ou à expiação de faltas que os distanciam da felicidade suprema, é para eles uma ocupação agradável. São às vezes designados pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.



[ Os homens podem comunicar-se com eles, mas bem presunçoso seria o que pretendesse tê-los constantemente às suas ordens.



* * *



LE - 168 - O número de existências corporais é limitado, ou, o Espírito se reencarna perpetuamente?

- A cada nova existência o Espírito dá um passo no caminho do progresso; quando se despojou de todas as suas impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.



LE - 170 - Em que se transforma o Espírito depois da sua última encarnação?

- Espírito bem-aventurado; é um Espírito puro.



LE - 226 Todos os Espíritos que não estão encarnados são errantes?

– Daqueles que devem reencarnar, sim. Mas os Espíritos puros que atingiram a perfeição não são errantes: seu estado é definitivo.



NOTA DE ALLAN KARDEC: No tocante às suas qualidades íntimas os Espíritos pertencem a diferentes ordens ou graus, pelos quais passam sucessivamente, à medida que se purificam. Quanto ao estado podem ser: encarnados, que quer dizer ligados a um corpo; errantes, ou desligados do corpo material e esperando uma nova encarnação para se melhorarem; Espíritos puros ou perfeitos e não tendo mais necessidade da encarnação.



LE - 233 Os Espíritos já purificados vão aos mundos inferiores?

– Vão muitas vezes a fim de ajudá-los a progredir. Senão esses mundos ficariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.



LE - 268 Até que atinja o estado de pureza perfeita, o Espírito tem que passar constantemente por provas?

– Sim, mas não são como as entendeis, visto que chamais de provas às adversidades materiais. Porém, o Espírito que atingiu um certo grau, sem ser ainda perfeito, nada mais tem a suportar; embora sempre tenha deveres que o ajudam a se aperfeiçoar, e que nada têm para ele de constrangedor ou angustiante, ainda que seja para ajudar os outros a se aperfeiçoar.



LE - 562 Os Espíritos de ordem mais elevada, não tendo mais nada a adquirir, estão numa espécie de repouso absoluto ou também têm ocupações?

– O que quereríeis que fizessem durante a eternidade? A ociosidade eterna seria um suplício eterno.



LE - 562 a Qual a natureza de suas ocupações?

– Receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las em todo o universo e velar pela sua execução.



233 Os Espíritos já purificados vão aos mundos inferiores?

– Vão muitas vezes a fim de ajudá-los a progredir. Senão esses mundos ficariam entregues a si mesmos, sem guias para dirigi-los.



LE - 563 As ocupações dos Espíritos são incessantes?

– Incessantes, sim, entendendo-se que seu pensamento é sempre ativo, pois vivem pelo pensamento. Mas é preciso não comparar as ocupações dos Espíritos às ocupações materiais dos homens. A atividade é para eles um prazer, pela consciência que têm de serem úteis.



LE - 563 a Isso se concebe para os bons Espíritos; mas ocorre o mesmo com os Espíritos inferiores?

– Os Espíritos inferiores têm ocupações apropriadas à sua natureza. Acaso confiais ao aprendiz e ao ignorante os trabalhos do homem de inteligência?



* * *



À luz da Escala Espírita, vamos tentar imaginar qual deve ser a classe de Espíritos predominante em cada mundo.



Categoria de Mundo


Progresso Acadêmico


Classes Predominantes de Espíritos

Primitivo


Educação Infantil


7a classe:

Espíritos Neutros.

Provas e Expiações


Ensino Fundamental


6a, 7a, 8a e 9a classes: Espíritos Perturbadores, Neutros, Pseudo-sábios, Levianos e Impuros.

Regeneradores


Ensino Médio


4a e 5a classes:

Espíritos Sábios e Benévolos.

Ditosos ou Felizes


Curso Superior


2a e 3a classes:

Espíritos de Sabedoria e Superiores.

Celestes ou Divinos


Pós Graduação


1a classe:

Espíritos Puros.

Quadro de Renato Costa no artigo "HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI"



* * *



in Revista Espírita,

Jornal de Estudos psicológicos publicada sobre a direção de Allan Kardec,

O Espiritismo entre os Druidas

abril de 1858



A Doutrina Espírita não consiste somente na crença das manifestações dos Espíritos, mas em tudo o que nos ensinam sobre a natureza e o destino da alma. Se, pois, se quiser se reportar aos preceitos contidos em O Livro dos Espíritos, onde se encontra formulado todo o seu ensinamento, impressionar-se-á com a identidade de alguns princípios fundamentais com os da doutrina druídica, dos quais um dos mais salientes e sem contradita, é o da reencarnação. Nos três círculos, nos três estados sucessivos dos seres animados, encontramos todas as fases que apresenta a nossa escala espírita. O que é, com efeito, o círculo de abred ou da migração, senão as duas ordens de Espíritos que se depuram em suas existências sucessivas? No círculo de gwynfyd, o homem não transmigra mais, goza da suprema felicidade. Não é a primeira ordem da escala, a dos Espíritos que, tendo cumprido todas as provas, não têm mais necessidade de encanação e gozam da vida eterna? Anotemos, ainda, que, segundo a doutrina druídica, o homem conserva o seu livre arbítrio; se eleva gradualmente pela sua vontade, sua perfeição progressiva e as provas que suporta, de annoufn ou abismo, até a perfeita felicidade em gwynfyd, com a diferença, no entanto, de que o druidismo admite o retorno possível nas classes inferiores, ao passo que, segundo o Espiritismo, o Espírito pode permanecer estacionário, mas não pode degenerar. Para completar a analogia, teríamos que acrescentar à nossa escala, abaixo da terceira ordem, o círculo de annoufn, por caracterizar o abismo ou origem, desconhecida das almas, e, acima da primeira ordem, o círculo de ceugant, morada de Deus, inacessível às criaturas. O quadro seguinte torna essa comparação mais sensível.





* * *

(*) Raciocínio sobre a classe espiritual de Jesus

segundo O Livro dos Espíritos:

Por Elio Mollo



No item 111 de O Livro dos Espíritos o codificador do Espiritismo diz que quando os espíritos superiores da segunda classe, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso, e então nos oferecem o modelo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.



No item 113 de LE sobre a classe Única (Espíritos puros) temos o seguinte:

*

não têm mais provas nem expiações a sofrer
*

não estão sujeitos nem às necessidades nem às vicissitudes da vida material



Na questão 168 (LE) os espíritos também foram claros ao responderem que quando se despojou de todas as suas impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.



Kardec em nota a q. 226 (LE) disse: Espíritos puros, perfeitos, que não têm mais necessidade de encarnação.



Vejamos o que diz um trecho da resposta a questão 611 de LE sobre a metempsicose: (...) Do momento em que o princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período de humanidade, ele não tem mais relação com o seu estado primitivo...



Por dedução, isto também cabe a ordem de Espíritos puros, uma vez atingido esse estágio, o antigo processo de (re)encarnação não tem mais fundamento. O pensamento dos Espíritos puros é sempre ativo, pois vivem pelo pensamento (LE 563) e, é pelo pensamento que visitam e auxiliam os planetas espalhados pelo Universo.

-

Como nenhum espírito que chegou ao estágio hominal irá ter mais condições de encarnar num corpo animal, os espíritos puros, consequentemente, não terão mais necessidade de encarnar num corpo humano, pois o Espírito não retrograda (LE 118 e 612), da mesma maneira que o rio não remonta a sua fonte (LE 612). Pois este retrocesso é entendido como metempsicose.

-

Sendo assim, se Jesus precisou encarnar na Terra para cumprir uma missão, tudo indica que na época que fez sua passagem por aqui ele pertencia a SEGUNDA ORDEM, SEGUNDA CLASSE, ESPÍRITOS SUPERIORES.

* * *



PROGRESSÃO DOS ESPÍRITOS



Os Espíritos por si mesmos se melhoram; melhorando-se, passam de uma ordem inferior para uma superior. (LE – 114)



*

Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento.
*

Deu a cada um deles uma missão, com o fim de os esclarecer e progressivamente conduzir à perfeição, pelo conhecimento da verdade e para os aproximar Dele.
*

A felicidade eterna e sem perturbações, eles a encontrarão nessa perfeição.
*

Os Espíritos adquirem o conhecimento passando pelas provas que Deus lhes impõe.



o

Uns aceitam essas provas com submissão e chegam mais prontamente ao seu destino;
o

outros não conseguem sofrê-las sem lamentação, e assim permanecem, por sua culpa, distanciados da perfeição e da felicidade prometida. (LE – 115)



Os Espíritos, na sua origem, se assemelhariam a crianças, ignorantes e sem experiência, mas vão adquirindo pouco a pouco os conhecimentos que lhes faltam, ao percorrer as diferentes fases da vida:



*

a criança rebelde permanece ignorante e imperfeita;
*

seu menor ou maior aproveitamento depende da sua docilidade.



o

Mas a vida do homem tem fim, enquanto a dos Espíritos se estende ao infinito. (LE – 115-a)



Os Espíritos não ficarão perpetuamente nas classes inferiores, todos se tornarão perfeitos. Eles mudam, ou seja, se melhoram, embora devagar. Assim como um pai justo e misericordioso não pode banir eternamente os seus filhos. Deus que é tão grande, tão justo e tão bom, pela lógica há de agir infinitamente melhor. (LE – 116)



Depende dos Espíritos apressarem o seu avanço para a perfeição. Eles chegam mais ou menos rapidamente, segundo o seu desejo e a sua submissão à vontade de Deus. Uma criança dócil se instrui mais depressa que uma rebelde. (LE – 117)



Os Espíritos não podem degenerar. À medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito conclui uma prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde.



*

Pode permanecer estacionário, mas não retrogradar. (LE – 118)



Deus não livra os Espíritos das provas que devem sofrer pra chegar à primeira ordem. Se eles tivessem sido criados perfeitos, não teriam merecimento para gozar dos benefícios dessa perfeição. Onde estaria o mérito, sem a luta? De outro lado, a desigualdade existente entre eles é necessária à sua personalidade, e a missão que lhes cabe, nos diferentes graus, está nos desígnios da Providência, com vistas à harmonia do Universo. (LE – 119)



NOTA DE ALLAN KARDEC: Como, na vida social, todos os homens podem chegar aos primeiros postos, também poderíamos perguntar por que motivo o soberano de um país não faz, de cada um dos seus soldados um general; por que todos os empregados subalternos não são superiores; por que todos os alunos não são professores. Ora, entre a vida social e a espiritual existe ainda a diferença de que a primeira é limitada e nem sempre permite a escalada de todos os seus degraus, enquanto a segunda é indefinida e deixa a cada um a possibilidade de se elevar ao posto supremo.



Os Espíritos não necessitam passar pela fieira do mal, para chegar ao bem, mas pela da ignorância. (LE – 120)



Uns Espíritos seguem o caminho do bem, e outros o do mal em virtude do livre-arbítrio. Deus não criou Espíritos maus criou-os simples e ignorantes, ou seja, tão aptos para o bem quanto para o mal; os que são maus, assim se tornaram por sua vontade. (LE – 121)



O livre-arbítrio se desenvolve à medida que o Espírito adquire consciência de si mesmo. Não haveria liberdade, se a escolha fosse provocada por uma causa estranha à vontade do Espírito. A causa não está nele, mas no exterior, nas influências a que ele cede em virtude de sua espontânea vontade. Esta é a grande figura da queda do homem e do pecado original:



*

uns cederam à tentação e outros a resistiram. (LE – 122)



As influências que se exercem sobre ele vem dos Espíritos imperfeitos que procuram envolvê-lo e dominá-lo, e que ficam felizes de o fazer sucumbir. Foi o que se quis representar na figura de Satanás. Esta influência não se exerce sobre o Espírito somente na sua origem, segue-o na vida de Espírito, até que ele tenha de tal maneira adquirido o domínio de si mesmo, que os maus desistam de obsidiá-lo. (LE – 122-a e b)



A sabedoria de Deus se encontra na liberdade de escolha que concede a cada um, porque assim cada um tem o mérito de suas obras. (LE – 123)



Havendo Espíritos que, desde o princípio, seguem o caminho do bem absoluto, e outros o do mal absoluto, há gradações entre esses dois extremos, e constituem a grande maioria. (LE – 124)



Os Espíritos que seguiram o caminho do mal poderão chegar ao mesmo grau de superioridade que os outros, mas as eternidades serão mais longas para eles. (LE – 125)



NOTA DE ALLAN KARDEC: Por essa expressão, as eternidades, devemos entender a idéia que os Espíritos inferiores fazem da perpetuidade dos seus sofrimentos, cujo termo não lhes é dado ver. Essa idéia se renova em todas as provas nas quais sucumbem.



Deus contempla os Espíritos extraviados com o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo modo. Eles são chamados maus porque sucumbiram; antes, não eram mais que simples Espíritos. (LE – 126)



Os Espíritos são criados iguais, mas não sabendo de onde vêm, é necessário que o livre-arbítrio se desenvolva. Progridem mais ou menos rapidamente, tanto em inteligência como em moralidade. (LE – 127)



NOTA DE ALLAN KARDEC: Os Espíritos que seguem desde o princípio o caminho do bem, nem por isso são Espíritos perfeitos; se não têm más tendências, não estão menos obrigados a adquirir a experiência e os conhecimentos necessários à perfeição. Podemos compará-los a crianças que, qualquer que seja a bondade dos seus instintos naturais, têm necessidade de desenvolver-se, de esclarecer-se, e não chegam sem transição da infância à maturidade. Assim como temos homens que são bons e outros que são maus, desde a infância, há Espíritos que são bons ou maus, desde o princípio, com a diferença capital de que a criança traz os seus instintos formados, enquanto o Espírito, na sua formação, não possui mais maldade que bondade. Ele tem todas as tendências, e toma uma direção ou outra em virtude do seu livre-arbítrio.



ANJOS E DEMÔNIOS



Os seres que chamamos anjos, arcanjos, serafins, não formam uma categoria especial, de natureza diferente da dos outros Espíritos; são Espíritos puros: estão no mais alto grau da escala e reúnem em si todas as perfeições. (LE – 128)



NOTA DE ALLAN KARDEC: A palavra anjo desperta geralmente a idéia da perfeição moral; não obstante, é freqüentemente aplicada a todos os seres, bons e maus, que não pertencem à Humanidade. Diz-se: o bom e o mau anjo; o anjo da luz e o anjo das trevas; e nesse caso ele é sinônimo de Espírito ou de gênio. Tomamo-la aqui na sua boa significação.



Os anjos também percorreram todos os graus, mas, uns aceitaram a sua missão sem murmurar e chegaram mais depressa; outros empregaram maior ou menor tempo para chegar à perfeição. (LE – 129)



Nosso mundo não existe de toda a eternidade, e que muito antes de existir já havia Espíritos no grau supremo; os homens, por isso, acreditaram que eles sempre haviam sido perfeitos. (LE – 130)



Não há demônios, no sentido que se dá a essa palavra, pois se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus. E Deus não seria justo e bom, criando seres infelizes, eternamente voltados ao mal. Se há demônios, eles fazem parte deste mundo inferior ou de outros semelhantes, que residem: são esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo, e que pensam lhe ser agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome. (LE – 131)



NOTA DE ALLAN KARDEC: A palavra demônio não implica a idéia de Espírito mau, a não ser na sua acepção moderna, porque o termo grego daimon, de que ela deriva, significa gênio, inteligência, e se aplicou aos seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção.



Os demônios, segundo a significação vulgar do termo, seriam entidades essencialmente malfazejas: e seriam, como todas as coisas, criação de Deus. Mas Deus, que é eternamente justo e bom, não pode ter criado seres predispostos ao mal por sua própria Natureza e condenados pela Eternidade. Se não fossem obra de Deus, seriam eternos como ele, e nesse caso haveria muitas potências soberanas.



A primeira condição de toda doutrina é a de ser lógica; ora, a dos demônios, no seu sentido absoluto, falha neste ponto essencial.?Que na crença dos povos atrasados, que não conheciam os atributos de Deus, admitindo divindades malfazejas, também se admitissem os demônios, é concebível; mas para quem quer que faça da bondade de Deus um atributo por excelência é ilógico e contraditório supor que ele tenha criado seres voltados ao mal e destinados a praticá-lo perpetuamente, porque isso negaria a sua bondade. Os partidários do demônio se apóiam nas palavras do Cristo e não seremos nós que iremos contestar a autoridade dos seus ensinos, que desejaríamos ver mais no coração do que na boca dos homens; mas estariam bem certos do sentido que ele atribuía à palavra demônio? Não se sabe que a forma alegórica é uma das características da sua linguagem? Tudo que o Evangelho contém deve ser tomado ao pé da letra? Não queremos outra prova, além desta passagem:



“Logo após esses dias de aflição, o sol se obscurecerá e a lua não dará mais a sua luz, as estrelas cairão do céu e as potências celestes serão abaladas. Em verdade vos digo?que esta geração não passará, antes que todas essas coisas se cumpram”. Não vimos a forma do texto bíblico contraditada pela Ciência, no que se refere à criação e ao movimento da Terra? Não pode acontecer o mesmo concertas figuras empregadas pelo Cristo, que devia falar de acordo com o tempo e a região em que se achava? O Cristo não poderia ter dito conscientemente uma falsidade.



Se, portanto, nessas palavras há coisas que parecem chocar a razão, é que não as compreendemos ou que as interpretamos mal.



Os homens fizeram, com os demônios, o mesmo que com os anjos. Da mesma forma que acreditaram na existência de seres perfeitos, desde toda a eternidade, tornaram também os Espíritos inferiores por seres perpetuamente maus. A palavra demônio deve, portanto ser entendida como referente aos Espíritos impuros, que freqüentemente não são melhores que os designados por esse nome, mas com a diferença de ser o seu estado apenas transitório. São esses os Espíritos imperfeitos que murmuram contra as suas provações e por isso as sofrem por mais tempo, mas chegarão por sua vez à perfeição, quando se dispuserem a tanto. Poderíamos aceitar a palavra demônio com esta restrição. Mas, como ela é agora entendida num sentido exclusivo, poderia induzir em erro, dando margem à crença na existência de seres criados especialmente para o mal.



A propósito de Satanás, é evidente que se trata da personificação do mal sob uma forma alegórica, porque não se poderia admitir um ser maligno lutando de igual para igual com a Divindade, e cuja única preocupação seria a de contrariar os seus desígnios. Como o homem necessita de imagens e figuras para impressionar a sua imaginação, pintou os seres incorpóreos com formas materiais dotadas de atributos que lembram as suas qualidades ou os seus defeitos. Foi assim que os antigos, querendo personificar o Tempo, deram-lhe a figura de um velho com foice e uma ampulheta. Uma figura de jovem, nesse caso, seria um contra-senso. O mesmo se deu com as alegorias da Fortuna, da Verdade, etc. Os modernos representaram os anjos, os Espíritos puros, numa figura radiosa, com asas brancas, símbolos da pureza, e Satanás com chifres, garras e os atributos da bestialidade, símbolos das baixas paixões. O vulgo, que toma as coisas ao pé da letra, viu nesses símbolos entidades reais, como outrora vira Saturno na alegoria do Tempo (1) .



(1) Esta teoria espírita sobre os demônios vai hoje se impondo aos próprios meios religiosos que mais acirradamente a combateram. Em O Diabo, o escritor católico Giovanni Papini a endossou, apoiado nos Pais da Igreja. O padre Pierre Teilhard de Chardin, cuja doutrina aproxima a teologia católica d.e concepção espírita, considera o Inferno como “pólo negativo do mundo”, integrado no Pleroma (o mundo divino unido ao corpo místico do Cristo) e assim se refere aos demônios: “O condenado não é excluído do Pleroma, mas apenas da sua face luminosa e da sua beatitude. Perde-o, mas não está perdido para ele.”– (Le Millieu Divin – Oeuvres – Seuil, 1957-- Paris – pág. 191.) –(N. do T.)

Pesquisa para estudo: Elio Mollo

A ALMA: SEDE DE TODAS AS PERCEPÇÕES E SENSAÇÔES

ESTUDO

Obs: As obras da pesquisa são citadas no texto.


Quando falamos da alma ou espírito elementar devemos considerar o espírito considerado em si mesmo e feita abstração de seu perispírito ou invólucro material. Assim na resposta da questão 23 de O Livro dos Espíritos, livro 1º., cap. II, podemos observar que a alma é o princípio inteligente do Universo.


É assim que Allan Kardec nos instrui no livro O que é o Espiritismo - Cap. II, itens 9, 10 e 14 quando diz:



Que durante a vida a alma está ligada ao corpo e, tem duplo envoltório:

*

um pesado e grosseiro e perecível, que é o corpo;
*

o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.

Existem, portanto, no homem, três elementos essenciais:

1º . A alma ou espírito, princípio inteligente onde residem o pensamento, a vontade e o senso moral;


2º . O corpo, envoltório material que põe o Espírito em relação com o mundo exterior;



3º. O perispírito, invólucro fluídico, leve, imponderável, servindo de liame e de intermediário entre o Espírito e o Corpo.”

*

A união da alma, do perispírito, e do corpo material constitui o homem.
*

A alma e o perispírito separados do corpo constituem a ser a que chamamos Espírito.

In nota referindo-se aos itens acima citados o codificador do Espiritismo esclarece que:

*

A alma é assim um ser simples;
*

o Espírito um ser duplo (1), e
*

o homem um ser triplo.

Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, filosoficamente é essencial fazer-se a diferença.



O perispírito é o órgão de transmissão de todas as sensações do espírito. O corpo recebe uma sensação que vem do exterior, o perispírito que está ligado a esse corpo transmite essa sensação e o espírito, que é o ser sensível e inteligente a recebe. E vice-versa: quando o ato é de iniciativa do espírito, o perispírito transmite e o corpo executa. (2)



Sobre as sensações e percepções do espírito Kardec in Revista Espírita - janeiro 1866 (A JOVEM CATALÉPTICA DE SOUABE), diz que:



A alma é o ser inteligente;

*

nela está a sede de todas as percepções e de todas as sensações;
o

sente e pensa por si mesma;
o

é individual, distinta, perfectível, pré-existente e sobrevivente ao corpo.

O corpo é seu envoltório material:

*

É o instrumento de suas relações com o mundo visível.

*

Durante a sua união com o corpo, ela percebe por intermédio dos sentidos, transmite seu pensamento com a ajuda do cérebro;
*

Separada do corpo, ela percebe diretamente e pensa mais livremente.

*

Tendo os sentidos uma importância circunscrita, as percepções recebidas por seu intermédio são limitadas, e, de alguma sorte, amortecidas;
*

Recebidas sem intermediário, são indefinidas e de uma sutileza que nos espanta, porque ultrapassa, não a força humana, mas todos os produtos de nossos meios materiais.

Pela mesma razão o pensamento transmitido pelo cérebro é peneirado por assim dizer através desse órgão. A grosseria e os defeitos do instrumento o paralisam e o abafam em parte, como certos corpos transparentes absorvem uma parte da luz que os atravessa. A alma, obrigada a se servir do cérebro, é como um músico muito bom diante de um instrumento imperfeito. Livre desse auxiliar incômodo, ela desdobra todas as suas faculdades.

*

Tal é a alma durante a vida e depois da morte;


o

Há, pois, para ela, dois estados:

*

O de encarnação ou de constrangimento, e o de
*

desencarnação ou de liberdade;

Em outros termos:

*

O da vida corpórea e
*

O da vida espiritual.
*

A vida espiritual é a vida normal, permanente da alma;
*

A vida corpórea é transitória e passageira.

Durante a vida corpórea, a alma não sofre constantemente o constrangimento do corpo, e aí está chave desses fenômenos físicos que não nos parecem tão estranhos senão porque nos transportam para fora da esfera habitual de nossas observações; são qualificados de sobrenaturais, embora em realidade estejam submetidos a leis perfeitamente naturais, mas porque essas leis nos eram desconhecidas. Hoje, graças ao Espiritismo, que fez conhecer essas leis, o maravilhoso desapareceu.

*

Durante a vida exterior de relação, o corpo tem necessidade de sua alma ou Espírito por guia, a fim de dirigi-lo no mundo; mas
*

Nos momentos de inatividade do corpo, a presença da alma não é mais necessária;
*

Dele se liberta, sem no entanto deixar de estar-lhe presa por um laço fluídico que a chama desde que a necessidade de sua presença se faça sentir;
*

Nesses momentos ela recobra em parte a liberdade de agir e de pensar da qual não gozará completamente senão depois da morte do corpo, quando dele estará completamente separada.

Essa situação foi espiritualmente e muito veridicamente descrita pelo Espírito de uma pessoa viva, que se comparava a um balão cativo, e por um outro, o Espírito de um idiota vivo que dizia ser como um pássaro preso pelo pé. (Revista Espírita, junho de 1860, p. 173.)

*

Esse estado, que chamamos emancipação da alma, ocorre normalmente e periodicamente durante o sono;
*

Só o corpo repousa para recuperar suas perdas matérias; mas o Espírito, que nada perdeu, aproveita esse descanso para se transportar onde quer.

Além disto, ocorre excepcionalmente todas as vezes que uma causa patológica, ou simplesmente fisiológica, produz a inatividade total ou parcial dos órgãos da sensação e da locomoção; é o que se passa na catalepsia, na letargia, no sonambulismo.

*

O desligamento ou, querendo-se, a liberdade da alma é tanto maior quanto a inércia do corpo é mais absoluta;

É por esta razão que o fenômeno adquire o seu maior desenvolvimento na catalepsia e na letargia. Neste estado, a alma não percebe mais pelos sentidos materiais mas, podendo-se exprimir-se assim, pelos sentidos psíquicos; é porque suas percepções ultra-passam os limites comuns; seu pensamento age sem o intermédio do cérebro, é por isto que ela desdobra as faculdades mais transcendentais do que no estado normal.

*

A causa do fenômeno da segunda vista não é outro senão a visão direta pela alma;
*

Da visão à distância, que resulta no transporte da alma ao lugar que ela descreve; da lucidez sonambúlica, etc.

A ciência procurará em vão a solução desses fenômenos enquanto fizer abstração do elemento espiritual, porque é nela que está a chave de todos esses pretensos mistérios.



Na Revista Espírita (Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec), ANO 9 - JANEIRO 1866 - Nº. 1:

"Publica-se neste momento uma importante obra que interessa no mais alto grau à Doutrina Espírita, e que não podemos melhor fazer conhecer senão pela análise do prospecto.

NOVO DICIONÁRIO UNIVERSAL, panteão literário e enciclopédia ilustrada, por MAURICE LACHATRE, com o concurso de sábios, de artistas e de homens de letras, segundo os trabalhos de: Allan Kardec, Ampère, Andral, Arago, Audouin, Balbi, Becquerel, Berzelius, B!ot, Brongnard, Burnouf, Chateaubriand, Cuvier, Flourens, Gay- Lussac, Guizot, Humboldt, Lamartine, Lamennais, Laplace, Magendie, Michelet, Ch. Nodier, Orfila, Payen, Raspail, de Sacy, J. B. Say, Thiers, etc., etc."


(...)


Em apoio às observações acima e como espécime da maneira pela qual as questões espíritas são tratadas nessa obra, citaremos a explicação que se encontra para a palavra ALMA. Depois de ter longamente e imparcialmente desenvolvido as diferentes teorias da alma, segundo Aristóteles, Platão, Leibniz, Descartes e outros filósofos, que não podemos reproduzir por causa de sua extensão, o artigo termina assim:

"SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA, a alma é o princípio inteligente que anima os seres da criação e lhes dá o pensamento, a vontade e a liberdade de agir. Ela é imaterial, individual e imortal; mas sua essência íntima é desconhecida: não podemos concebê-la absolutamente isolada da matéria senão como uma abstração. Unida ao envoltório fluídico etéreo ou perispírito, ela constitui o ser espiritual concreto, definido e circunscrito chamado Espírito. (V. ESPÍRITO, PERISPÍRITO.) Por metonímia, emprega-se freqüentemente as palavras alma e espírito uma pela outra; diz-se: as almas sofredoras e os espíritos sofredores; as almas felizes e os espíritos felizes; evocar a alma ou o espírito de alguém; mas a palavra alma desperta antes a idéia de um princípio, de uma coisa abstrata, e a palavra espírito a de uma individualidade.

"O espírito unido ao corpo material pela encarnação constitui o homem;



de sorte que no homem há três coisas:



- a alma propriamente dita, ou princípio inteligente;

- o perispírito, ou envoltório fluídico da alma;

- o corpo, ou envoltório material.



- A alma é assim um ser simples;

- o espírito, um ser duplo composto da alma e do perispírito;

- o homem, um ser triplo composto da alma, do perispírito e do corpo.



- O corpo separado do espírito é uma matéria inerte;

- o perispírito separado da alma é uma matéria fluídica sem vida e sem inteligência.

A alma é o princípio da vida e da inteligência; foi, pois, erradamente que algumas pessoas pretenderam que dando à alma um envoltório fluídico semi-material, o Espiritismo dela fez um ser material.

"A origem primeira da alma é desconhecida, porque o princípio das coisas está nos segredos de Deus, e que não é dado ao homem, em seu estado atual de inferioridade, tudo compreender. Não se pode, sobre este ponto, formular senão sistemas. Segundo uns, a alma é uma criação espontânea da Divindade; segundo outros é mesmo uma emanação, uma porção, uma centelha do fluido divino. Aí está o problema sobre o qual não se pode estabelecer senão hipóteses, porque há razões pró e contra. A segunda opinião se opõe, no entanto, esta objeção fundada: sendo Deus perfeito, se as almas são porções da Divindade, elas deveriam ser perfeitas, em virtude do axioma de que a parte é da mesma natureza que o todo; desde então, não se compreenderia que as almas fossem imperfeitas e que tivessem necessidade de se aperfeiçoar. Sem nos deter nos diferentes sistemas tocando a natureza íntima e a origem da alma, o Espiritismo a considera na espécie humana; ele constata, pelo fato de seu isolamento e de sua ação independente da matéria, durante a vida e depois da morte, sua existência, seus atributos, sua sobrevivência e sua individualidade. Sua individualidade ressalta da diversidade que existe entre as idéias e as qualidades de cada um no fenômeno das manifestações, diversidade que acusa para cada uma existência própria.

Um fato não menos capital ressalta igualmente das observações: é que a alma é essencialmente progressiva, e que adquire sem cessar em saber e em moralidade, uma vez que se as vê em todos os graus de desenvolvimento. Segundo o ensino unânime dos Espíritos, ela é criada simples e ignorante, quer dizer, sem conhecimentos, sem consciência do bem e do mal, com uma igual aptidão para um e para outro e para tudo adquirir. Sendo a criação incessante e por toda a eternidade, há almas chegadas ao cume da escala, enquanto que outras nascem para a vida; mas, tendo todas o mesmo ponto de partida, Deus não as criou melhor dotadas umas do que as outras, o que é conforme a sua soberana justiça: uma perfeita igualdade presidindo a sua formação, elas avançam mais ou menos rapidamente, em virtude de seu livre arbítrio e segundo seu trabalho.

Deus deixa assim a cada uma o mérito e o demérito de seus atos, e a responsabilidade cresce à medida que se desenvolve o senso moral. De sorte que, de duas almas criadas ao mesmo tempo, uma pode chegar ao objetivo mais depressa do que a outra, se trabalha mais ativamente para a sua melhoria; mas aquelas que permaneceram atrasadas chegarão igualmente, embora mais tarde e depois de rudes provas, porque Deus não fecha o futuro para nenhum de seus filhos.

A encarnação da alma num corpo material é necessária para o seu aperfeiçoamento; pelo trabalho de que a existência corpórea necessita, a inteligência se desenvolve. Não podendo, numa única existência, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-la ao objetivo, ela ali chega passando por uma série ilimitada de existências, seja sobre a Terra, seja em outros mundos, em cada um dos quais ela dá um passo no caminho do progresso e se despoja de algumas imperfeições. Em cada existência a alma leva o que adquiriu nas existências precedentes. Assim se explica a diferença que existe nas aptidões inatas e no grau de adiantamento das raças e dos povos. (V. ESPÍRITO, REENCARNAÇÃO.)"

Para estudar mais sobre a alma encontramos em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, PARTE 2ª. - CAPÍTULO II, obra codificada por Allan Kardec:

134. Que é a alma?
“Um Espírito encarnado.”

Observação (A Era do Espírito): Note-se que a alma no mundo dos Espíritos utiliza-se do perispírito para a manifestação da sua individualidade, assim, no mundo espiritual a alma + perispírito = Espírito, e, quando na Terra é um Espírito encarnado, ou melhor, alma + perispírito + corpo físico = homem. (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 - (obra de autoria de Allan Kardec).

134a) - Que era a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”

Observação (A Era do Espírito): No mundo espiritual a alma + perispírito = Espírito

134b) - As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.”

135. Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o laço que liga a alma ao corpo.”

135a) - De que natureza é esse laço?
“Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os dois se possam comunicar um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”

NOTA DE ALLAN KARDEC - O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:

1º. - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2º. - a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;
3º. - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.

136. A alma independe do princípio vital?
“O corpo não é mais do que envoltório, repetimo-lo constantemente.”

136a) - Pode o corpo existir sem a alma?
“Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois dessa união se haver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.”

136b) - Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
“Simples massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.”

149. Em que se torna alma no instante da morte?
“Torna-se Espírito; isto é, entra no mundo dos Espíritos que havia deixado momentaneamente”.

Observação (A Era do Espírito): De alma + perispírito + corpo físico = homem a alma volta a ser Espírito, ou seja, alma + perispírito = Espírito. (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 (obra de autoria de Allan Kardec).



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(1) Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.” (Questão 76 in O Livro dos Espíritos obra codificada por Allan Kardec)

NOTA DE ALLAN KARDEC: A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo.


(2) Allan Kardec in O Livro dos Espíritos - qs. 245, 249, 249a, item 257 (Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos) e qs. de 367 à 372a (Influência do organismo), O Livro dos Médiuns - 1a parte, cap. II, item 14 - 1a parte, cap. IV, item 51 - 2a parte, cap. I, item 54 e 58 - 2a parte, cap. XVII, item 203 - 2a parte, cap. XIX, item 223, qs. 2ª, 2ªa e 6ª - 2a parte, cap. XIX, item 225 e 2a parte, cap. XXII, item 236, A Gênese - cap. I item 40 - cap. II item 23 - Encarnação dos Espíritos - cap. XI item 17 - (Vista espiritual ou psíquica. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos)- cap. XIV - item 22, Obras Póstumas - §6.º - Dos Médiuns – item 34, Revista Espírita (Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec), Ano IV, junho de 1861, Ano V, dezembro de 1862, Ano VI, janeiro de 1863



E SENSAÇÔES

Pesquisa: Elio Mollo

Obs: As obras da pesquisa são citadas no texto.




Quando falamos da alma ou espírito elementar devemos considerar o espírito considerado em si mesmo e feita abstração de seu perispírito ou invólucro material. Assim na resposta da questão 23 de O Livro dos Espíritos, livro 1º., cap. II, podemos observar que a alma é o princípio inteligente do Universo.



É assim que Allan Kardec nos instrui no livro O que é o Espiritismo - Cap. II, itens 9, 10 e 14 quando diz:



Que durante a vida a alma está ligada ao corpo e, tem duplo envoltório:

*

um pesado e grosseiro e perecível, que é o corpo;
*

o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.

Existem, portanto, no homem, três elementos essenciais:

1º . A alma ou espírito, princípio inteligente onde residem o pensamento, a vontade e o senso moral;


2º . O corpo, envoltório material que põe o Espírito em relação com o mundo exterior;



3º. O perispírito, invólucro fluídico, leve, imponderável, servindo de liame e de intermediário entre o Espírito e o Corpo.”

*

A união da alma, do perispírito, e do corpo material constitui o homem.
*

A alma e o perispírito separados do corpo constituem a ser a que chamamos Espírito.

In nota referindo-se aos itens acima citados o codificador do Espiritismo esclarece que:

*

A alma é assim um ser simples;
*

o Espírito um ser duplo (1), e
*

o homem um ser triplo.

Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, filosoficamente é essencial fazer-se a diferença.



O perispírito é o órgão de transmissão de todas as sensações do espírito. O corpo recebe uma sensação que vem do exterior, o perispírito que está ligado a esse corpo transmite essa sensação e o espírito, que é o ser sensível e inteligente a recebe. E vice-versa: quando o ato é de iniciativa do espírito, o perispírito transmite e o corpo executa. (2)



Sobre as sensações e percepções do espírito Kardec in Revista Espírita - janeiro 1866 (A JOVEM CATALÉPTICA DE SOUABE), diz que:



A alma é o ser inteligente;

*

nela está a sede de todas as percepções e de todas as sensações;
o

sente e pensa por si mesma;
o

é individual, distinta, perfectível, pré-existente e sobrevivente ao corpo.

O corpo é seu envoltório material:

*

É o instrumento de suas relações com o mundo visível.

*

Durante a sua união com o corpo, ela percebe por intermédio dos sentidos, transmite seu pensamento com a ajuda do cérebro;
*

Separada do corpo, ela percebe diretamente e pensa mais livremente.

*

Tendo os sentidos uma importância circunscrita, as percepções recebidas por seu intermédio são limitadas, e, de alguma sorte, amortecidas;
*

Recebidas sem intermediário, são indefinidas e de uma sutileza que nos espanta, porque ultrapassa, não a força humana, mas todos os produtos de nossos meios materiais.

Pela mesma razão o pensamento transmitido pelo cérebro é peneirado por assim dizer através desse órgão. A grosseria e os defeitos do instrumento o paralisam e o abafam em parte, como certos corpos transparentes absorvem uma parte da luz que os atravessa. A alma, obrigada a se servir do cérebro, é como um músico muito bom diante de um instrumento imperfeito. Livre desse auxiliar incômodo, ela desdobra todas as suas faculdades.

*

Tal é a alma durante a vida e depois da morte;


o

Há, pois, para ela, dois estados:

*

O de encarnação ou de constrangimento, e o de
*

desencarnação ou de liberdade;

Em outros termos:

*

O da vida corpórea e
*

O da vida espiritual.
*

A vida espiritual é a vida normal, permanente da alma;
*

A vida corpórea é transitória e passageira.

Durante a vida corpórea, a alma não sofre constantemente o constrangimento do corpo, e aí está chave desses fenômenos físicos que não nos parecem tão estranhos senão porque nos transportam para fora da esfera habitual de nossas observações; são qualificados de sobrenaturais, embora em realidade estejam submetidos a leis perfeitamente naturais, mas porque essas leis nos eram desconhecidas. Hoje, graças ao Espiritismo, que fez conhecer essas leis, o maravilhoso desapareceu.

*

Durante a vida exterior de relação, o corpo tem necessidade de sua alma ou Espírito por guia, a fim de dirigi-lo no mundo; mas
*

Nos momentos de inatividade do corpo, a presença da alma não é mais necessária;
*

Dele se liberta, sem no entanto deixar de estar-lhe presa por um laço fluídico que a chama desde que a necessidade de sua presença se faça sentir;
*

Nesses momentos ela recobra em parte a liberdade de agir e de pensar da qual não gozará completamente senão depois da morte do corpo, quando dele estará completamente separada.

Essa situação foi espiritualmente e muito veridicamente descrita pelo Espírito de uma pessoa viva, que se comparava a um balão cativo, e por um outro, o Espírito de um idiota vivo que dizia ser como um pássaro preso pelo pé. (Revista Espírita, junho de 1860, p. 173.)

*

Esse estado, que chamamos emancipação da alma, ocorre normalmente e periodicamente durante o sono;
*

Só o corpo repousa para recuperar suas perdas matérias; mas o Espírito, que nada perdeu, aproveita esse descanso para se transportar onde quer.

Além disto, ocorre excepcionalmente todas as vezes que uma causa patológica, ou simplesmente fisiológica, produz a inatividade total ou parcial dos órgãos da sensação e da locomoção; é o que se passa na catalepsia, na letargia, no sonambulismo.

*

O desligamento ou, querendo-se, a liberdade da alma é tanto maior quanto a inércia do corpo é mais absoluta;

É por esta razão que o fenômeno adquire o seu maior desenvolvimento na catalepsia e na letargia. Neste estado, a alma não percebe mais pelos sentidos materiais mas, podendo-se exprimir-se assim, pelos sentidos psíquicos; é porque suas percepções ultra-passam os limites comuns; seu pensamento age sem o intermédio do cérebro, é por isto que ela desdobra as faculdades mais transcendentais do que no estado normal.

*

A causa do fenômeno da segunda vista não é outro senão a visão direta pela alma;
*

Da visão à distância, que resulta no transporte da alma ao lugar que ela descreve; da lucidez sonambúlica, etc.

A ciência procurará em vão a solução desses fenômenos enquanto fizer abstração do elemento espiritual, porque é nela que está a chave de todos esses pretensos mistérios.



Na Revista Espírita (Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec), ANO 9 - JANEIRO 1866 - Nº. 1:

"Publica-se neste momento uma importante obra que interessa no mais alto grau à Doutrina Espírita, e que não podemos melhor fazer conhecer senão pela análise do prospecto.

NOVO DICIONÁRIO UNIVERSAL, panteão literário e enciclopédia ilustrada, por MAURICE LACHATRE, com o concurso de sábios, de artistas e de homens de letras, segundo os trabalhos de: Allan Kardec, Ampère, Andral, Arago, Audouin, Balbi, Becquerel, Berzelius, B!ot, Brongnard, Burnouf, Chateaubriand, Cuvier, Flourens, Gay- Lussac, Guizot, Humboldt, Lamartine, Lamennais, Laplace, Magendie, Michelet, Ch. Nodier, Orfila, Payen, Raspail, de Sacy, J. B. Say, Thiers, etc., etc."


(...)


Em apoio às observações acima e como espécime da maneira pela qual as questões espíritas são tratadas nessa obra, citaremos a explicação que se encontra para a palavra ALMA. Depois de ter longamente e imparcialmente desenvolvido as diferentes teorias da alma, segundo Aristóteles, Platão, Leibniz, Descartes e outros filósofos, que não podemos reproduzir por causa de sua extensão, o artigo termina assim:

"SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA, a alma é o princípio inteligente que anima os seres da criação e lhes dá o pensamento, a vontade e a liberdade de agir. Ela é imaterial, individual e imortal; mas sua essência íntima é desconhecida: não podemos concebê-la absolutamente isolada da matéria senão como uma abstração. Unida ao envoltório fluídico etéreo ou perispírito, ela constitui o ser espiritual concreto, definido e circunscrito chamado Espírito. (V. ESPÍRITO, PERISPÍRITO.) Por metonímia, emprega-se freqüentemente as palavras alma e espírito uma pela outra; diz-se: as almas sofredoras e os espíritos sofredores; as almas felizes e os espíritos felizes; evocar a alma ou o espírito de alguém; mas a palavra alma desperta antes a idéia de um princípio, de uma coisa abstrata, e a palavra espírito a de uma individualidade.

"O espírito unido ao corpo material pela encarnação constitui o homem;



de sorte que no homem há três coisas:



- a alma propriamente dita, ou princípio inteligente;

- o perispírito, ou envoltório fluídico da alma;

- o corpo, ou envoltório material.



- A alma é assim um ser simples;

- o espírito, um ser duplo composto da alma e do perispírito;

- o homem, um ser triplo composto da alma, do perispírito e do corpo.



- O corpo separado do espírito é uma matéria inerte;

- o perispírito separado da alma é uma matéria fluídica sem vida e sem inteligência.

A alma é o princípio da vida e da inteligência; foi, pois, erradamente que algumas pessoas pretenderam que dando à alma um envoltório fluídico semi-material, o Espiritismo dela fez um ser material.

"A origem primeira da alma é desconhecida, porque o princípio das coisas está nos segredos de Deus, e que não é dado ao homem, em seu estado atual de inferioridade, tudo compreender. Não se pode, sobre este ponto, formular senão sistemas. Segundo uns, a alma é uma criação espontânea da Divindade; segundo outros é mesmo uma emanação, uma porção, uma centelha do fluido divino. Aí está o problema sobre o qual não se pode estabelecer senão hipóteses, porque há razões pró e contra. A segunda opinião se opõe, no entanto, esta objeção fundada: sendo Deus perfeito, se as almas são porções da Divindade, elas deveriam ser perfeitas, em virtude do axioma de que a parte é da mesma natureza que o todo; desde então, não se compreenderia que as almas fossem imperfeitas e que tivessem necessidade de se aperfeiçoar. Sem nos deter nos diferentes sistemas tocando a natureza íntima e a origem da alma, o Espiritismo a considera na espécie humana; ele constata, pelo fato de seu isolamento e de sua ação independente da matéria, durante a vida e depois da morte, sua existência, seus atributos, sua sobrevivência e sua individualidade. Sua individualidade ressalta da diversidade que existe entre as idéias e as qualidades de cada um no fenômeno das manifestações, diversidade que acusa para cada uma existência própria.

Um fato não menos capital ressalta igualmente das observações: é que a alma é essencialmente progressiva, e que adquire sem cessar em saber e em moralidade, uma vez que se as vê em todos os graus de desenvolvimento. Segundo o ensino unânime dos Espíritos, ela é criada simples e ignorante, quer dizer, sem conhecimentos, sem consciência do bem e do mal, com uma igual aptidão para um e para outro e para tudo adquirir. Sendo a criação incessante e por toda a eternidade, há almas chegadas ao cume da escala, enquanto que outras nascem para a vida; mas, tendo todas o mesmo ponto de partida, Deus não as criou melhor dotadas umas do que as outras, o que é conforme a sua soberana justiça: uma perfeita igualdade presidindo a sua formação, elas avançam mais ou menos rapidamente, em virtude de seu livre arbítrio e segundo seu trabalho.

Deus deixa assim a cada uma o mérito e o demérito de seus atos, e a responsabilidade cresce à medida que se desenvolve o senso moral. De sorte que, de duas almas criadas ao mesmo tempo, uma pode chegar ao objetivo mais depressa do que a outra, se trabalha mais ativamente para a sua melhoria; mas aquelas que permaneceram atrasadas chegarão igualmente, embora mais tarde e depois de rudes provas, porque Deus não fecha o futuro para nenhum de seus filhos.

A encarnação da alma num corpo material é necessária para o seu aperfeiçoamento; pelo trabalho de que a existência corpórea necessita, a inteligência se desenvolve. Não podendo, numa única existência, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-la ao objetivo, ela ali chega passando por uma série ilimitada de existências, seja sobre a Terra, seja em outros mundos, em cada um dos quais ela dá um passo no caminho do progresso e se despoja de algumas imperfeições. Em cada existência a alma leva o que adquiriu nas existências precedentes. Assim se explica a diferença que existe nas aptidões inatas e no grau de adiantamento das raças e dos povos. (V. ESPÍRITO, REENCARNAÇÃO.)"

Para estudar mais sobre a alma encontramos em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, PARTE 2ª. - CAPÍTULO II, obra codificada por Allan Kardec:

134. Que é a alma?
“Um Espírito encarnado.”

Observação (A Era do Espírito): Note-se que a alma no mundo dos Espíritos utiliza-se do perispírito para a manifestação da sua individualidade, assim, no mundo espiritual a alma + perispírito = Espírito, e, quando na Terra é um Espírito encarnado, ou melhor, alma + perispírito + corpo físico = homem. (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 - (obra de autoria de Allan Kardec).

134a) - Que era a alma antes de se unir ao corpo?
“Espírito.”

Observação (A Era do Espírito): No mundo espiritual a alma + perispírito = Espírito

134b) - As almas e os Espíritos são, portanto, idênticos, a mesma coisa?
“Sim, as almas não são senão os Espíritos. Antes de se unir ao corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, os quais temporariamente revestem um invólucro carnal para se purificarem e esclarecerem.”

135. Há no homem alguma outra coisa além da alma e do corpo?
“Há o laço que liga a alma ao corpo.”

135a) - De que natureza é esse laço?
“Semimaterial, isto é, de natureza intermédia entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os dois se possam comunicar um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito atua sobre a matéria e reciprocamente.”

NOTA DE ALLAN KARDEC - O homem é, portanto, formado de três partes essenciais:

1º. - o corpo ou ser material, análogo ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2º. - a alma, Espírito encarnado que tem no corpo a sua habitação;
3º. - o princípio intermediário, ou perispírito, substância semimaterial que serve de primeiro envoltório ao Espírito e liga a alma ao corpo. Tais, num fruto, o gérmen, o perisperma e a casca.

136. A alma independe do princípio vital?
“O corpo não é mais do que envoltório, repetimo-lo constantemente.”

136a) - Pode o corpo existir sem a alma?
“Pode; entretanto, desde que cessa a vida do corpo, a alma o abandona. Antes do nascimento, ainda não há união definitiva entre a alma e o corpo; enquanto que, depois dessa união se haver estabelecido, a morte do corpo rompe os laços que o prendem à alma e esta o abandona. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo privado de vida orgânica.”

136b) - Que seria o nosso corpo, se não tivesse alma?
“Simples massa de carne sem inteligência, tudo o que quiserdes, exceto um homem.”

149. Em que se torna alma no instante da morte?
“Torna-se Espírito; isto é, entra no mundo dos Espíritos que havia deixado momentaneamente”.

Observação (A Era do Espírito): De alma + perispírito + corpo físico = homem a alma volta a ser Espírito, ou seja, alma + perispírito = Espírito. (Ver O que é o Espiritismo - Cap. II, item 9, 10 e 14 (obra de autoria de Allan Kardec).



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(1) Que definição se pode dar dos Espíritos?
“Pode dizer-se que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Povoam o Universo, fora do mundo material.” (Questão 76 in O Livro dos Espíritos obra codificada por Allan Kardec)

NOTA DE ALLAN KARDEC: A palavra Espírito é empregada aqui para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente do Universo.


(2) Allan Kardec in O Livro dos Espíritos - qs. 245, 249, 249a, item 257 (Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos) e qs. de 367 à 372a (Influência do organismo), O Livro dos Médiuns - 1a parte, cap. II, item 14 - 1a parte, cap. IV, item 51 - 2a parte, cap. I, item 54 e 58 - 2a parte, cap. XVII, item 203 - 2a parte, cap. XIX, item 223, qs. 2ª, 2ªa e 6ª - 2a parte, cap. XIX, item 225 e 2a parte, cap. XXII, item 236, A Gênese - cap. I item 40 - cap. II item 23 - Encarnação dos Espíritos - cap. XI item 17 - (Vista espiritual ou psíquica. Dupla vista. Sonambulismo. Sonhos)- cap. XIV - item 22, Obras Póstumas - §6.º - Dos Médiuns – item 34, Revista Espírita (Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec), Ano IV, junho de 1861, Ano V, dezembro de 1862, Ano VI, janeiro de 1863

Pesquisa: Elio Mollo